Há assuntos que mereciam mais atenção mediática, mas que ficam esquecidos na espuma dos dias. O economista Eugénio Rosa publica regularmente estudos que contrariam esta tendência e colocam o dedo na ferida. O último, com base em dados do Eurostat, denuncia a contradição entre a diminuição do tempo de vida saudável enquanto aumenta a idade da reforma e a esperança média de vida.

O Eurostat não publica dados por regiões, pelo que não temos forma de comparar a realidade dos Açores com a nacional. No entanto, é expectável que a realidade seja pior na Região: a esperança média de vida é inferior à nacional e são bem conhecidos os efeitos negativos da pobreza na saúde. Os dados mostram que vivemos mais tempo, mas com menos saúde, porque somos atingidos por problemas de saúde mais novos. Entre 2013 e 2022, a idade saudável diminuiu 4 anos (dos 63 para os 59 anos), a idade da reforma aumentou 1 ano e 7 meses (dos 65 para os 66 anos e 7 meses) e a esperança média de vida aumentou 1,3 anos (dos 77,6 para os 78,9 anos).

A tendência é de agravamento, porque a pobreza agrava-se, as condições de trabalho são, elas próprias, fatores de doença e as condições da reforma tendem também a piorar, devido à legislação aprovada pelo PS, PSD e CDS, durante os governos de José Sócrates e de Passos Coelho (com o apoio, na altura, do atual primeiro-ministro). Tudo isto chocando com o desenvolvimento científico e tecnológico! Quando o conhecimento permite produzir mais com menos esforço, quando a medicina nos pode dar mais saúde durante mais tempo, trabalharemos mais anos e com menos saúde, numa transformação cínica de avanços civilizacionais em piores condições de vida!

Perante isto, o que faz o governo regional? Procura melhorar as condições de vida, de saúde e de trabalho nos Açores? Não, prefere lançar ilusões! Ao mesmo tempo, demonstrando que a falta de vergonha não tem limites, o PSD e o CDS votaram contra as propostas do PCP para repor a reforma aos 65 anos de idade e 40 de descontos e para antecipar a aposentação para quem trabalha por turnos – o que comprovadamente prejudica a saúde. Cá continuarão os deputados da CDU, como tantas vezes aconteceu com outras conquistas que demoraram a ver a luz do dia, a apresentar estas propostas tantas vezes quantas as que forem precisas, até que seja reconhecido um direito elementar: a gozar a reforma com saúde!

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