O festival AngraJazz, que arranca hoje em Angra do Heroísmo, nos Açores, nasceu há 25 anos e já levou à ilha Terceira alguns dos maiores nomes do jazz mundial, como Carla Bley, Toots Thielemans e Charles Lloyd.

“Nós tivemos a oportunidade de trazer aqui muitos dos melhores músicos de jazz do mundo. Eu penso que as pessoas não têm noção da qualidade e da importância dos músicos que nós trazemos cá, [como aconteceu com] a Carla Bley, o Toots Thielemans, o Charles Lloyd. São personagens absolutamente extraordinárias, os melhores do mundo”, afirmou, em declarações à agência Lusa, José Ribeiro Pinto, um dos fundadores do festival.

A poucas horas do arranque de mais uma edição, que este ano conta com quatro noites de concertos, José Ribeiro Pinto fez uma viagem no tempo até à primeira edição do AngraJazz.

No final da década de 90, já Ribeiro Pinto fazia o programa “Sabores do Jazz”, da Antena 1/Açores, quando o secretário regional da Economia da altura o desafiou a criar um “festival a sério, a lembrar o velho festival de Cascais”.

Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo propunha o mesmo ao músico Bruno Walter Ferreira.

Os dois juntaram alguns amigos que também gostavam de jazz e avançaram com a organização do festival, impondo como únicas condições a liberdade de escolha do cartaz e o apoio financeiro das duas entidades.

“Somos nós que organizamos, somos nós que escolhemos, vocês suportam financeiramente. A gente não quer receber dinheiro nenhum, mas também não quer pagar”, lembrou Ribeiro Pinto.

Em 1999, no claustro do Convento de São Francisco, onde está instalado o Museu de Angra do Heroísmo, arrancou a primeira edição, com o apoio do produtor de espetáculos lisboeta Paulo Gil.

“O primeiro festival correu muitíssimo bem. Teve quatro concertos maravilhosos, com o Toots Thielemans- bela harmónica -, e com o John Scofield, que era e continua a ser um grande guitarrista. Foi um sucesso o festival, de tal forma que a DRAC [Direção Regional dos Assuntos Culturais] anunciou logo que dava 6.000 contos, acho eu, para um novo festival no ano 2000”, recordou Ribeiro Pinto.

No ano seguinte, nasceu a Associação Cultural AngraJazz, com o único propósito de organizar o festival, que entretanto passou para o Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo e só não se realizou em 2020, devido à pandemia de covid-19.

“Fazer isto durante 25 anos é extremamente gratificante”, frisou Ribeiro Pinto, um dos dois membros da direção inicial que ainda se mantêm na associação.

Numa ilha no meio do Atlântico, o festival assume como missão a formação de públicos, mas também de músicos, com a criação, em 2002, da Orquestra AngraJazz, que todos os anos abre a programação.

“Hoje em dia é a orquestra amadora mais antiga do país e é também a única escola de jazz que há na região. Por lá têm passado muitos jovens, que aprendem a tocar jazz. E da orquestra têm saído muitos grupos”, frisou o organizador.

Considerado “um dos três melhores festivais de jazz do país”, segundo José Ribeiro Pinto, o AngraJazz é hoje também um cartaz turístico.

“Em 2019, a última vez que fizemos um inquérito cuidadoso, tínhamos 27% do público de fora da ilha”, salientou.

A 25.ª edição do AngraJazz, que arranca hoje, conta com quatro noites e já tem 80 a 90% de bilhetes vendidos.

Pelo palco do Centro Cultural de Angra do Heroísmo vão passar a Orquestra AngraJazz, com o saxofonista espanhol Perico Sambeat, o quarteto da saxofonista nigeriana Camilla George, os pianistas portugueses Mário Laginha e João Paulo Esteves da Silva, num concerto a quatro mãos, e o quarteto da cantora norte-americana Catherine Russel.

Atuam ainda o trio do pianista e compositor norte-americano Vijay Iyer e o sexteto Nebula Project, liderado pelo pianista, acordeonista e compositor norte-americano Ben Rosenblum.

O festival encerra com o quarteto do saxofonista-alto português Ricardo Toscano, que sobe ao palco com músicos do Conservatório de Angra do Heroísmo, e com o espetáculo do quinteto Generation Y, em que o baterista e professor de música norte-americano Ulisses Owens Jr. convida jovens talentos emergentes, acompanhado pelo saxofonista italiano Francesco Cafiso.

Desde sábado, há também, diariamente, concertos gratuitos em restaurantes, bares, lojas e espaços públicos da cidade, com Sofia Dutra Trio, Wave Jazz Ensemble, Sónia Pereira Trio e Quarteto Ricardo Toscano, acompanhado por Pedro Moreira.

 

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