Teve laivos de novidade a defesa da atividade cultural sem dependências do financiamento público. É estranho que assim seja, porque a atividade cultural é na sua essência um ato livre, de criação, produção e divulgação. Não pode, portanto, subordinar-sede forma absoluta ao financiamento público, como às vezes acontece (ou querem que aconteça) entre nós.
O dinheiro dos contribuintes, neste caso como em tantos outros, deve ter carater de complementaridade, para reforçar a sustentabilidade dos projetos e catapultá-los para níveis de excelência e abrangência geográfica e demográfica de outro modo impossíveis na diversidade territorial das nossas ilhas.
Obviamente, num contexto de ajudas públicas com caráter supletivo, artistas, produtores e instituições têm de encontrar fontes alternativas de financiamento, como patrocínios privados, parcerias com empresas e instituições e até o recurso ao moderno crowdfunding. Seguramente, isso estimula formas mais sustentáveis e autónomas de produção cultural, com redes colaborativas e produtos culturais mais autênticos e representativos.
O financiamento estatal deve, portanto, ser destinado à democratização da cultura, garantindo que espetáculos, exposições e publicações cheguem a todos os públicos, com eficaz abrangência social, geográfica e demográfica, sem elitização, e no caso dos Açores, também prosseguindo os nobres desígnios da preservação do património edificado e imaterial e subsequente fruição.
Admito que nem todos comunguem de um modelo de financiamento cultural assim enquadrado. Este é o que defendo.