Esta semana foi pródiga, do ponto de vista da Ciência Política, para quem gosta de analisar cenários e resultados eleitorais, no âmbito da política internacional. Destaco, naturalmente, as eleições no Reino Unido, e em França. Ambos experimentaram reviravoltas políticas, cujos resultados oferecem panoramas completamente distintos. Enquanto os trabalhistas, no Reino Unido alcançaram uma maioria bastante folgada e de certo modo histórica, pelo facto de terminarem com a liderança conservadora de 14 anos, em França, realço a fragmentação política definida pelos resultados da 2ª volta das eleições legislativas.

No Reino Unido e, fruto da ampla maioria já referida, tendo o Partido Trabalhista assegurado 410 dos 650 assentos parlamentares, Keir Starmer, que substitui Rishi Sunak na qualidade de primeiro-ministro, terá uma liberdade bastante assinalável para implementar as suas políticas sem grandes obstáculos. Entre as principais medidas de Starmer, realço a intenção de reaproximação à União Europeia, como demonstra a sua vontade em estabelecer um pacto de segurança, bem como acordos bilaterais de defesa com a Alemanha e França.

Por outro lado, França vive momentos de tensão e sobressalto. Ora bem, as eleições legislativas resultaram num parlamento sem maioria absoluta, para surpresa de alguns que já anunciavam a vitória da Reunião Nacional (RN), de Bardella e Le Pen. Aquilo que os resultados eleitorais em França nos indicam é uma divisão do parlamento francês em três grandes blocos: a Nova Frente Popular, emergiu enquanto força dominante, tendo alcançado 182 dos 577 lugares disponíveis. Por outro lado, a coligação liderada por Emmanuel Macron, ficou em segundo lugar, com 168 mandatos, enquanto a extrema-direita se ficou pelo terceiro lugar, obtendo 143 assentos parlamentares.

Fruto daquilo que são as vicissitudes do sistema eleitoral francês, nos círculos onde nenhum candidato alcançou a maioria absoluta na primeira volta, houve lugar a uma segunda volta, que foi aproveitada, de forma estratégica pela esquerda e pelos centristas, no sentido de criar um cordão sanitário à extrema-direita, fazendo cair, em conjunto, mais de 200 candidatos que se tinham submetido a sufrágio na primeira volta, de modo a maximizar o voto útil, fundamental para combater a ascensão da extrema-direita ao poder.

Mas afinal, o que dizem estes resultados? Na minha ótica, os resultados eleitorais, em França, funcionaram apenas como um pequeno balão de oxigénio, que tende a esvaziar-se a breve trecho, na medida em que me parece que levando em consideração o estado financeiro daquele país, aliando essa situação a outras questões como é o caso dos migrantes, que impactam atualmente toda a Europa e que provocam tumultos significativos entre os cidadãos, aumentarão ainda mais o descontentamento junto do eleitorado.

Ora, se pensarmos naquilo que foram os resultados eleitorais, nas duas voltas, e considerando as questões económicas, financeiras e sociais, bem como a fragmentação política que o parlamento contempla, estão reunidas as condições para, a médio prazo, a ascensão da extrema-direita ao poder ser inevitável.

Certo é que, para já, Macron antecipou as eleições com o objetivo de se fortalecer a si e ao seu primeiro-ministro. Se há pouco mais de uma semana, esta decisão parecia um suicídio político, na prática, a estratégia resultou na manutenção dos liberais no Governo, pelo menos por enquanto, uma vez que Macron optou por manter Gabriel Attal como primeiro-ministro, mesmo após o seu pedido de demissão, argumentando com a necessidade de garantir a estabilidade política. Resta agora procurar acordos parlamentares entre os recém-eleitos, para garantir a governabilidade daquele país. A meu ver, esta é a derradeira oportunidade para os partidos moderados mostrarem maturidade política e capacidade de voltar a conquistar a confiança das pessoas.

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