A secretária regional da Saúde dos Açores admitiu hoje uma necessidade de reforço de recursos humanos para combater as listas de espera em cirurgia, mas sublinhou que a produção em 2023 foi a mais elevada de sempre.
“Tivemos o maior número de intervenções de sempre registado, com cerca de 26.591 intervenções”, afirmou, em declarações aos jornalistas, a titular das pastas da Saúde e Segurança Social na região, Mónica Seidi.
A governante falava, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, no final de uma reunião, por videoconferência, com os diretores clínicos e diretores dos blocos operatórios dos três hospitais da região.
Apesar do aumento da produção cirúrgica, o número de utentes em lista de espera subiu em 2023 e a produção acrescida, no âmbito do programa CIRURGE, diminuiu.
Segundo o relatório anual do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia dos Açores de 2023, no final do ano aguardavam por cirurgia 10.713 utentes, mais 9,9% do que em 2022.
No âmbito do programa CIRURGE, foram realizadas 9.558 cirurgias, menos 619 do que em 2022.
Para Mónica Seidi, é preciso “olhar a outros fatores, nomeadamente a complexidade e severidade das cirurgias” para compreender o porquê de a lista de espera estar a aumentar, quando são realizadas mais intervenções.
“Não nos esqueçamos que estamos a operar utentes com uma faixa etária cada vez maior”, frisou.
A governante realçou, por outro lado, um aumento do número de consultas, que já superou os valores de 2019, pré-pandemia de covid-19.
“Se estamos a fazer mais consultas, se estamos a fazer mais imagiologia, obviamente vamos fazer mais diagnósticos”, reforçou.
Ainda assim, Mónica Seidi admitiu que há “uma limitação de recursos humanos”, que se agrava com abertura de novas valências, que recorrem também a médicos e enfermeiros anestesistas.
O reforço de profissionais é uma preocupação dos diretores clínicos dos hospitais e do executivo açoriano, mas exige medidas que tornem os Açores mais atrativos, com incentivos à fixação e com uma aposta nas idoneidades formativas, defendeu a governante.
“A tutela tem de arranjar forma de conseguir aumentar o leque de internos de formação específica. Já começámos esse trabalho com a comissão regional do internato médico. Há aqui uma perspetiva de serem criadas vagas regionais, mas também há a nossa intenção de voltarmos a ter vagas preferenciais na região, algo que foi abandonado na última década por governos anteriores”, apontou.
Em causa, nas vagas preferenciais, está a possibilidade de o interno fazer a formação, que não existe nos Açores, fora da região, sendo o custo assumido pelo Governo Regional, com o compromisso de o médico regressar à região.
“No passado, não houve um benefício evidente desse retorno à região. Estamos disponíveis para rever, eventualmente, a capacidade de punir quem não regressa à região, porque se estamos a fazer esse investimento, temos de ter esse retorno”, explicou a secretária.
Em 2023, o Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, o maior da região, realizou menos 445 cirurgias (8%) no âmbito do CIRURGE, mas foi o único dos três hospitais a cumprir com o plano proposto, superando “em quase 500 cirurgias o que tinha sido inicialmente previsto”.
Questionada sobre os motivos que levaram os outros dois hospitais a não atingir as metas propostas, Mónica Seidi disse que na Horta houve uma “redução em 50% dos anestesistas”, por morte e doença, e na Terceira “a distribuição da verba entre as equipas não gerou consenso”.
O Hospital da Ilha Terceira já manifestou ter “capacidade de aumentar o tempo de funcionamento do bloco operatório” e a governante disse esperar que as limitações se resolvam em 2024.
“Tenho a certeza que irão ficar resolvidas, até porque à semelhança do que acontece em Ponta Delgada tem havido uma adesão de praticamente 100% dos profissionais de saúde à prática do CIRURGE”, frisou.