Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores, respondeu às recentes declarações de José Manuel Bolieiro, atual presidente do executivo açoriano, sobre um alegado “resgate financeiro” aos Açores em 2012. Num artigo publicado no Correio dos Açores, César classificou essas afirmações como baseadas num “desconhecimento” da realidade, esclarecendo que a situação financeira da Região naquele período não justificou qualquer intervenção específica da troika, ao contrário do que aconteceu a nível nacional e na Madeira.
César explicou que o memorando assinado entre o Governo Regional e a República em 2012 não implicou medidas adicionais de austeridade para os Açores, mas apenas garantiu um empréstimo de 135 milhões de euros para refinanciar dívidas existentes, num contexto em que o acesso aos mercados financeiros estava bloqueado a nível nacional. Segundo o ex-governante, esse financiamento resultou exclusivamente da crise nacional e não de dificuldades financeiras próprias da Região. Rejeitou ainda a alegação de que o montante envolvido teria sido de 185 milhões, esclarecendo que os 50 milhões adicionais autorizados nunca chegaram a ser utilizados.
Comparando a situação de 2012 com a atual, César acusou o Governo de José Manuel Bolieiro de depender excessivamente da República para obter financiamento, mesmo com os mercados financeiros disponíveis. Apontou que, em 2024 e 2025, a Região voltou a recorrer ao apoio nacional para cumprir compromissos, o que considera demonstrar uma gestão financeira menos rigorosa.
Carlos César sublinhou também a saúde financeira dos Açores durante a sua governação, destacando que, em 2012, a dívida pública regional correspondia a 32,1% do PIB, muito abaixo da média nacional de 126,2% e da Madeira, que registava 107,9%. Essa realidade, afirmou, foi elogiada por especialistas financeiros e pela própria troika, reforçando que os Açores evitaram qualquer intervenção específica ou programa de ajustamento.
O ex-presidente do Governo Regional concluiu que as declarações de Bolieiro revelam uma visão errada do passado financeiro da Região, atribuindo aos Açores responsabilidades que, na sua opinião, são exclusivamente devidas ao contexto nacional e internacional da época.