O início do julgamento de Ricardo Salgado, antes conhecido como dono disto tudo, avivou a revolta contra a impunidade de que o caso é exemplo. Julgar os crimes 10 anos depois de acontecerem e quando estão quase a prescrever só pode causar uma justa indignação. Será útil olhar de novo para este caso, pelas lições que podemos tirar.

Há muito que o PCP caraterizou o grupo Espírito Santo como um símbolo da política de direita, apoiado por todos os governos: tanto do PS, como do PSD ou do PSD/CDS. Tudo começou há cerca de 40 anos, quando Mário Soares e o PS ajudaram Ricardo Salgado a adquirir o BES, através do então presidente francês Mitterand, que facilitou um empréstimo bancário, sem quaisquer garantias! Estes são favores políticos, que demonstram a subordinação do poder político ao poder económico.

Durante décadas, foram inúmeras as vantagens fiscais e as facilidades a negócios pouco transparentes. Diga-se, em abono da verdade, que nisto não há qualquer diferença entre o BES e outro qualquer banco. Por exemplo, em proporção, todos pagam menos impostos que qualquer outro cidadão ou pequena empresa. Este caso revelou as falhas na fiscalização e a conivência por parte de quem poderia e deveria ter evitado a crise bancária que ainda hoje pagamos. Ao contrário do que seria de esperar, nenhuma das más práticas ou das falhas do sistema de fiscalização, entretanto, se resolveram.

Durante 17 anos, já gastámos mais de 20,5 mil milhões de dinheiros públicos com a banca privada falida. Em 2025, serão mais 200 milhões, previstos no orçamento do estado. Ao mesmo tempo, o governo garante que não há dinheiro para aumentar salários ou para contratar e valorizar investigadores, médicos, professores, polícias e tantos outros que fazem falta todos os dias. São opções: ou se facilita o enriquecimento ilícito e a especulação, ou se resolvem os problemas que todos sentimos, diariamente. Infelizmente, todos os estudos sobre o sistema financeiro revelam que a realidade está pior. Seria bom dizer que os problemas que causaram a queda do BES estão resolvidos. Infelizmente, isso não corresponde aos factos…

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