O centro histórico de Angra do Heroísmo, nos Açores, acolhe este mês, pelo quarto ano consecutivo, espetáculos de teatro, dança, música e vídeo, que se cruzam com o dia-a-dia de lojas e cafés.
“Há teatro, há dança, há música, há muita animação, histórias, algumas mais tristes, outras mais divertidas, tudo ligado ao 25 de Abril, que é aquela data inescapável este ano”, adiantou, em declarações aos jornalistas, Ana Brum, diretora artística da companhia Cães do Mar, que organiza o evento.
Com o tema “Filhos da Madrugada”, o evento “Rua Direita” arranca de 11 a 13 de julho e regressa de 18 a 20 do mesmo mês, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
Ao todo são 10 espetáculos ou instalações, que vão percorrer nove espaços do centro da cidade, desde cafés a livrarias, passando por lojas, praças e varandas
Quando arrancou, há quatro anos, o projeto apanhou de surpresa as pessoas que visitavam os espaços sem contar encontrar um espetáculo a decorrer, mas hoje são cada vez mais os que já o conhecem.
“Há pessoas que ficam muito agradadas e repetem. Há pessoas que ficam um pouco estupefactas. Houve pessoas que quase que se encostavam à parede e viravam as costas com receio de ver. As reações vão variando, mas a pouco e pouco as pessoas também se vão habituando”, contou Ana Brum.
Este ano, os espetáculos decorrem na Rua Direita, que deu nome ao evento, mas estendem-se também à Rua de São João e à Praça Velha, para “ter mais impacto” e ir levando “o público a experimentar estes espaços e conhecer um pouco da sua história”.
“A nossa relação com espaço passa não só pelo espaço que é atualmente, mas também pelo espaço que já foi. Vamos tentando encontrar uma relação entre a história do espaço e o tema que criamos”, explicou a diretora artística.
Os espetáculos são gratuitos e têm uma duração de 10 a 15 minutos, repetindo-se várias vezes ao longo do dia.
“É um convite a que façam parte da atividade da própria cidade, da atividade do comércio e da restauração da cidade e que estejam a usufruir da criação artística, daquilo que de bom se faz aqui e do contacto com artistas que não são de cá”, apelou Ana Brum.
Para além dos artistas locais, passam por Angra do Heroísmo artistas de Inglaterra, Espanha e Guiné-Bissau, um músico da Madeira e um grupo de teatro da ilha vizinha de São Jorge.
Na livraria Lar Doce Livro, na Rua de São João, estará o contador de histórias luso-guineense Marinho Pina, com um espetáculo produzido pelo dramaturgo inglês da Cães do Mar Peter Cann, que combina música, poesia e vídeo.
“Estamos a comemorar 50 anos de Abril e vamos lembrar o que podemos perder se voltarmos ao antes, porque muitos de nós nasceram após, então temos certas coisas que damos por garantidas e nunca pensamos como é que chegaram a nós”, revelou o protagonista.
Segundo Marinho Pina, o espetáculo “tem um formato muito flexível e aberto para ser um diálogo com as pessoas que vão assistir”, por isso cada performance será diferente da anterior.
Na Rua Direita, na loja Basílio Simões, uma das mais antigas da cidade, estará novamente a atriz da Cães do Mar Bianca Mendes, com uma performance de teatro dos objetos, que conta a história de pessoas que voltaram de Angola com o 25 de Abril.
A atriz participou também num laboratório de tradições orais açorianas na escola da freguesia dos Altares, que deu a origem a uma curta-metragem, feita pelos alunos, com a ajuda dos realizadores Abi Feijó e Regina Pessoa, e que foi submetida ao festival Cinanima.
“Estar tanto atrás do bastidores, como à frente, é extremamente excitante e gratificante. É enriquecedor. A gente consegue conviver e conhecer muita gente da comunidade. A minha relação com a loja Basílio Simões mudou completamente. Eu chego lá e já faço parte daquela casa”, salientou.
Orçado em cerca de 50 mil euros, o evento recebe apoios da DGArtes, da direção regional da Cultura dos Açores e do município de Angra do Heroísmo.