Portugal saiu à rua para comemorar os 50 anos daquela que é a data que marcou a mudança, num país que vivia amordaçado nos sonhos, nos pensamentos e na pobreza. Fechado ao mundo, com uma elite que beneficiava de um estado opressor e que vivia do trabalho operário mal pago.
Um estado opressor que resistiu perante o medo que as pessoas tinham, porque no fundo não sabiam que o estado receava que a organização e a revolta popular. Pessoas que morreram numa guerra que não era delas, pessoas que após meses de tortura morriam às mãos da PIDE, pessoas que, embora perseguidas, não deixaram de lutar por todas e todos, até mesmo por aqueles que hoje os vilipendiam.
Tal como é frequente ouvir-se, o 25 de Abril não tem dono. Mas tem detratores e inimigos que preferiam que não tivesse acontecido. E são esses que se querem fazer donos dele, para o destruírem. E, esses, andam aí. Têm nome e rosto. E são esses que temos de combater. Porque, amanhã, é outra vez 25 de Abril.
O que se assistiu, neste país, com a saída em massa da população residente em Portugal, pais, filhos netos e bisnetos daquela madrugada, significa que as pessoas estão atentas ao que se passa na nossa sociedade e na nossa política, dando um sinal claro de que não permitirão interromper ou retroceder nas conquistas e nas portas que Abril abriu.
Os milhares que encheram avenidas, ruas e praças provaram que podem estar descontentes com muita coisa. Os portugueses podem e estão fartos de muita coisa, mas que querem hoje, como quiseram há 50 anos atrás os valores de Abril. Voltar atrás nestes valores é voltar atrás enquanto sociedade.
O olhar emocionado, dos 90 anos, de Celeste Caeiro, a mulher que entregou os cravos vermelhos aos militares na Revolução do 25 de Abril foi relembrar violência, a pobreza e a guerra a que a ditadura condenou Portugal e que estão inscritas na história da esmagadora maioria das famílias deste país.
Relembrar as últimas vítimas do fascismo, materializado através dos últimos tiros de elementos da PIDE, entre os quais se encontrava um açoriano, João Arruda, a vibrar com a alegria de ser livre. Foi livre por pouco tempo, mas assistiu à felicidade de Portugal.
De França, através de Macron chegou-nos uma mensagem, na qual aproveitou para dar uma aula a Marcelo e a Montenegro acerca da importância histórica de um momento como o 25 de Abril. Relembrou onde e quando Zeca Afonso tinha gravado a mítica Grândola e enalteceu as três Marias: Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
Na Galiza, mulheres, homens, jovens e crianças, cantaram publicamente a Grândola, na localização exata onde o tema foi cantado publicamente pela primeira vez por Zeca Afonso, em maio de 1972.
Do mundo do futebol, Miguel Magalhães, na sua flash interview, disse “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”, numa mensagem clara de que se não fosse o 25 de Abril, não estaria ali.
Da cerimónia institucional, na Assembleia da República, há comportamentos que me envergonham. Os Capitães de Abril foram, como sempre, aplaudidos. PS, BE, PCP, Livre e PAN levantaram-se. PSD, CDS, IL e Chega ficaram sentados. Muitos nem aplaudiram. E estes gestos também contam. E muito.
Ventura começou o discurso por dizer que abril deu liberdade, mas tirou dignidade. Resume bem o que o chega representa. CDS e IL passaram metade do discurso a falar do 25 de Novembro, sempre com palmas do Chega. Nunca nos esqueçamos do valor miserável que esta gente dá ao 25 de Abril. Liberdade é só para eles. Diferenças abismais marcaram os discursos, os da direita eram revanchistas, ressabiados, papões do wokismo, enquanto a esquerda optou por enaltecer as conquistas da democracia e liberdade.
Mas, como disse Rosa de Luxemburgo: “Lutamos por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”, e, portanto, o 25 de Abril, é o dia mais belo do ano, hoje e sempre!