Não sou um pai perfeito. É verdade. E, embora nem sempre tenha pensado assim, hoje percebo que não ser um pai perfeito (e ter consciência disso) é o melhor que posso fazer pela minha filha.

Sem querer ignorar as exceções que, como sabemos, acabam por ter o destaque que a regra jamais alcançará, ser pai é sinónimo de, todos os dias, a cada instante, procurar ser o melhor para os filhos. Pelos filhos. Deve ser sinónimo disto, sim. Quando falo em “pai”, refiro-me àqueles que honram o título, àqueles que, querendo honrar o título, sentem sempre que podem tentar fazer ainda mais. Estou a falar dos que protegem, dos que cuidam, dos que estão presentes, dos que amam. Estou a falar de pais a sério. Daqueles que ambicionam, permanentemente, a perfeição, conscientes de que não há nada mais inalcançável.

Começo por mim. Eu quero ser um pai perfeito. Quero! Não tenho qualquer dúvida disso. E também não tenho qualquer dúvida de que posso ter um papel decisivo, enquanto pai, no desenvolvimento da minha filha. Sim, posso. Não basta existir. E eu quero assumir essa responsabilidade. Eu quero estar presente em todos os momentos importantes da vida minha filha. Eu quero dar-lhe a mão quando ela sentir medo. Eu quero ser o primeiro a abraçá-la quando cair. Eu quero dizer-lhe que ‘vai conseguir’ quando se sentir hesitante. Mas… Será que conseguirei fazer tudo isto? Sempre? É normal – e até compreensível – que não consigamos fazer tudo isto. É possível – e até provável – que estejamos longe deles quando, em alguma ocasião, sentirem medo, caírem ou tiverem de tomar uma decisão importante. E isto é um desafio. É um grande desafio para os pais. É viver com a certeza angustiante de que não vamos conseguir o que mais queremos. Porque é tão impossível quanto a perfeição.

Não é fácil. Passamos demasiadas horas a trabalhar. Demasiadas horas no trânsito. Demasiadas horas mergulhados numa rotina que absorve, asfixia. Chegamos a casa tarde, exaustos, saturados, com os nervos à flor da pele. Que atire a primeira pedra quem nunca se irritou por algo sem importância alguma… Quem nunca chegou a casa sem vontade de brincar… Quem nunca chegou a casa e fez de um tablet boia de salvação perante aquela birra que é, na verdade, de todos… O peso que os pais carregam sobre os seus ombros é grande. É exagerado. De quem é a culpa? De todos. Sim, também é nossa. Exigimos ser os melhores profissionais. Darmos tudo pela empresa onde trabalhamos. Temos de vestir a camisola. Temos de conseguir atingir sempre todos os objetivos. Nada pode falhar. Mesmo que, para isso, tenhamos de trabalhar mais horas, chegar mais tarde à escola ou voltar a pegar no computador depois de os deitarmos. Mesmo quando sabemos que, nessa noite, vamos voltar a acordar três ou quatro vezes por causa dos pesadelos, da tosse ou de outra coisa qualquer. Sim, porque, ao mesmo tempo, exigimos ser os melhores pais. Exigimos não falhar prazos na escola. Exigimos encontrar as melhores atividades. Exigimos saber e querer brincar. Exigimos ter paciência, ser maturos e racionais. Exigimos tudo isto mesmo depois de uma noite mal dormida porque era preciso terminar aquele trabalho, fechar aquele negócio ou acabar aquele relatório.

Porra. Sim, ser pai é também, afinal, este aperto no peito, uma frustração que corrói e uma interminável competição entre o que sou, o que quero ser e o que, naquele momento, consigo ser. E não, nada disto desaparece com o tempo. Simplesmente aprendemos a viver com isto e somos recompensados com os sorrisos daqueles seres cuja vida passa a ser o ar que respiramos. Simplesmente aprendemos que o importante é que os nossos filhos saibam (acreditem) que, mesmo longe, seremos sempre a sua proteção, o seu amparo, o seu porto seguro. O seu colo. E isso só depende de nós. Do que formos e fizermos. E da nossa capacidade de pedir desculpa quando falharmos e não formos, nem fizermos o que seria e faria um pai perfeito.

Repito: eu sei que não é fácil. Hoje, eu sei que ser pai não é fácil. E ser um bom pai ainda é mais difícil. Mas também sei que o que importa mesmo é, por mais difícil que seja, não deixar de querer ser perfeito. Para ela. Por ela. Com ela. Na certeza de que esta incessante (e imperfeita) busca pela perfeição é o melhor que lhe posso dar. Todos os dias.

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