A legislatura que aí vem será muito difícil no que concerne à estabilidade governativa. É por isso que, tal como já referi na passada semana, Montenegro terá de ser um ás na gestão e capacidade de diálogo naquilo que se prevê uma governação distribuída por etapas, nas quais se irão aliar o sprint e a corrida de resistência, fruto do pior resultado de sempre de PSD e CDS coligados.

Ainda sem conhecermos as contas da totalidade dos resultados da emigração, nos quais se prevê uma taxa de anulação de votos de cerca de 40%, matéria a discutir noutras núpcias, a verdade é que os resultados eleitorais que até agora conhecemos, indicam 90 deputados à esquerda, em conjunto e, por outro lado, 87 se contarmos os deputados da AD e IL de forma agregada. Ou seja, a abstenção do Chega não é suficiente para aprovar leis no parlamento nacional. A AD terá de pressionar o PS no sentido de não só aprovar o seu orçamento mas também garantir a estabilidade governativa, na expectativa de que o país não enfrente um cenário cada vez mais real no que diz respeito à questão da ingovernabilidade, estando no horizonte, novo ato eleitoral a breve trecho.

O governo da AD, com ou sem IL, terá de ser sólido, baseado na confiança ou, pelo menos, na perceção de confiança por parte do eleitorado. É aqui que entra a fase do sprint, na medida em que os primeiros sessenta dias de governação de Montenegro serão determinantes quanto à fulcral ousadia das suas políticas públicas que terão obrigatoriamente de ser reformistas, em simultâneo. Terá de ser resistente, uma vez que a necessidade de implementação das referidas políticas terá de estar alicerçada na audácia e credibilidade dos nossos governantes.

O contexto político é dificílimo e a constituição do próximo elenco governativo pode ser absolutamente determinante para os desígnios da nação.

É com esta assunção que devo destacar, em particular, a importância que estará alocada ao Ministro dos Assuntos Parlamentares. Esta posição terá de ser ocupada por alguém com considerável traquejo nestas andanças. A ginástica que este ministro conseguir fazer, terá um impacto essencial no sucesso do governo quanto à tão almejada estabilidade.

Aquilo que temos visto, um pouco por todos os painéis de opinião é bastante sintomático dos cenários que estão em cima da mesa. Em vez de se discutir os principais desafios do novo governo, nomeadamente nas questões da saúde, educação ou habitação, estamos todos a discutir em quem incidirá o ónus da instabilidade provocada pela queda de um governo.

Ora, se por um lado, as políticas que a AD irá implementar nos primeiros meses de governação podem ser decisivas no esvaziamento da argumentação do Chega e também na capacidade de dissuasão quanto à queda do elenco governativo e dissolução da Assembleia, o mesmo também se deve pensar relativamente ao PS, partido que irá liderar a oposição. Os Açores funcionaram como tubo de ensaio para o país, vejamos se as posturas dos diferentes líderes partidários vão ou não coincidir. Não podemos também esquecer a importância de Marcelo, que poderá desempenhar um papel basilar no incentivo ao diálogo entre partidos com o intuito de manter o equilíbrio no xadrez político português.

Numa altura em que todos advogam um governo de combate político, o governo de Montenegro terá de ser diplomata e exímio na arte do diálogo se não quer ser um governo a prazo como aos dias de hoje se perspetiva.

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