Alexandra Manes

Sem grandes surpresas, o Programa do XIV Governo Regional foi aprovado.

Sinceramente, não compreendo o suspense que se pretendeu fazer existir relativamente à sua aprovação, quando os três anos anteriores de legislatura foram essencialmente marcados por chantagens e rasgar de acordos, por parte da Iniciativa Liberal e do chega.

Não seria de esperar que os partidos que fizeram cair o Governo anterior – IL e ch – votassem agora contra o programa proposto.

O chega, que era a maior ameaça, acabou por vergar à inevitabilidade de não ter visto nenhuma das suas reivindicações satisfeita. Paulo Estêvão e Artur Lima fazem partem da coligação, Artur Lima mantém a Vice-Presidência e Paulo Estêvão assume uma pasta do atual executivo, quando estes dois eram o “ódio de estimação” do chega. Nem tão pouco, o líder parlamentar do chega conseguiu a sua eleição para a vice-presidência da Mesa do Parlamento.

Por sua vez, o IL, embora apontando uma série de críticas, também vergou ao fazendo aprovar o programa que tanto desaprovou, nas intervenções do seu líder. Portanto, “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

José Manuel Bolieiro, que se arroga de uma elevada humildade democrática, lá no alto da sua sageza, na sua intervenção inicial, tentou traçar um paralelismo entre a oposição e a anarquia. Isto não com base na génese da anarquia, mas como se a consequência de haver oposição fosse o caos, na sociedade. Referia-se claramente ao BE e ao PS, que já haviam anunciado o voto contra. Nunca o faria ao chega, IL e PAN, pois precisava destes para ver o programa aprovado.

Mas, Bolieiro foi mais longe nas declarações à comunicação social após a aprovação do seu documento, quando questionado acerca do termo “cambalhotas” utilizado pelo deputado eleito do BE, para caracterizar a mudança repentina de Bolieiro relativamente a negociações com o chega. Na verdade, nem foram cambalhotas, mas sim verdadeiros saltos mortais em trave.

Já as ilhas Flores e Corvo, para além de terem ficado de fora do périplo da maioria das candidaturas às legislativas nacionais (algo que me perturba enquanto cidadã e açoriana), foram, mais uma vez, alvo de um ataque feroz por parte da Sra. Secretária Berta Cabral, aquando da menção do avião cargueiro – aquele que nunca levantou voo dos cartazes do CDS.

Não é novidade que o pescado do Grupo Ocidental fica muitas vezes retido devido ao cancelamento de voos e à falta de espaço para carga, por parte da SATA. Também sabemos que quanto mais tarde se der o escoamento do peixe, por menos valor é vendida a matéria-prima. No entanto, a Sra. Secretária, valendo-se da sua posição de nomeada por um governo democraticamente eleito, destratou os pescadores da ilha das Flores, afirmando que com ou sem avião cargueiro, o resultado seria o mesmo, pois era mais caro ir um avião às Flores do que o valor do peixe a ser escoado.

Esqueceu-se foi de que aquele é fruto do trabalho daqueles homens e que dali vem o seu rendimento para fazer face às despesas mensais com a família e todos os apetrechos necessários à sua faina.

Realmente, estas pessoas não merecem tamanha frieza e desrespeito, pois sentem todos os dias as consequências de viver longe. Vivem na ultraperiferia da saúde, da educação, do abastecimento de bens essenciais…

Só faltou mesmo dizer que o Grupo Ocidental é um custo oneroso à Região…

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