A observação de aves (‘birdwatching’) tem dinamizado crescentemente a atividade turística da mais pequena ilha dos Açores, o Corvo, entre outubro e novembro, onde chegam a estar mais de 60 observadores em simultâneo à procura de espécies raras.
“Dinamiza absolutamente a economia local, porque chegam a estar mais de 60 pessoas na mesma altura na ilha”, disse à Lusa o presidente do único município do Corvo (com o mesmo nome), José Manuel Silva, na semana em que os Açores estão em destaque na Bolsa de Turismo de Lisboa.
Segundo o autarca, a procura do Corvo para a observação de aves começou “há mais de uma década”, por mera casualidade, e desde então tem vindo a revitalizar a ilha, onde residem perto de 400 habitantes.
“Se tivermos 50 ou 60 pessoas na mesma altura durante um mês ou um mês e meio, estamos a falar de um retorno económico bastante interessante para a economia local. E é muito importante para a ilha, porque ocorre na época baixa”, explicou o autarca, indicando que a atividade se estende até ao início do mês de novembro.
A presença dos observadores de aves esgota o hotel da ilha e os alojamentos locais. “Alguns ficam em casas particulares, porque no início a ilha não tinha a capacidade de resposta de alojamento que tem atualmente. São pessoas que vão ao Corvo há 10, 12 e 13 anos e que continuam a ficar nessas casas particulares”, explicou José Manuel Silva.
Os visitantes são oriundos de várias partes do mundo, com muitos registos de europeus, em particular ingleses, franceses e belgas. Saem de madrugada e só regressam à vila ao final do dia.
“Não quer dizer que nas outras ilhas não existam aves migratórias, mas no Corvo acaba por ser especial, porque é mais fácil eles juntarem-se e seguirem em grupo, e no final registam tudo nos seus diários de bordo”, referiu o autarca.
Além de ser muito importante para dinamizar a ilha, é um turismo que o município considera “de qualidade”, com “pessoas extremamente organizadas, com respeito pela natureza”.
O Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo é a primeira paragem obrigatória para aqueles que querem conhecer o Parque Natural e a Reserva da Biosfera da ilha.
O equipamento, na dependência da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, existe desde 2019 e está instalado na parte histórica da vila.
No espaço, “é possível explorar a temática das aves selvagens que ocorrem no Arquipélago, bem como a prática de observação de aves, atividade de turismo que distingue o Corvo como um local de elevada importância no contexto do ‘birdwatching’ internacional”, lê-se na página na Internet do Centro de Interpretação.
Há “vários equipamentos multimédia com conteúdos alusivos ao Parque Natural e à avifauna” como um painel de avistamentos, um holograma e um livro ilustrativo das aves “invernantes, migratórias, nidificantes e acidentais observáveis na ilha”.
Os visitantes têm ainda a possibilidade de viajar pela ilha através de uma experiência de realidade virtual, com um vídeo de aproximadamente cinco minutos que “permite uma melhor compreensão da interação entre o Homem e o ambiente”.
O Centro integra também a última atafona do Corvo, edifício onde, até início da década de 1960, se realizava o principal processo de farinação da ilha.
Os Açores são o destino nacional convidado da edição deste ano da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que decorre desde quarta-feira até domingo, no Parque das Nações.
A Associação de Observadores Marítimo-Turísticos dos Açores (AOMA) é uma das entidades presentes, procurando promover a observação de baleias e golfinhos no mercado nacional.
“Há turistas que vêm aos Açores apenas para ver baleias”, contou o vice-presidente, Rui Cabral Melo, referindo-se sobretudo aos estrangeiros.
A observação de baleias e golfinhos no arquipélago teve início há cerca de 30 anos, quando o iatista francês Serge Vialelle instalou na vila das Lajes do Pico uma base da atividade, aproveitando o conhecimento dos antigos baleeiros da ilha, que caçavam cachalotes para a indústria baleeira.
Hoje existem dezenas de operadores licenciados, divididos entre a observação de baleias e o mergulho, a maioria deles nas ilhas do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge).
O crescente número de empresas e a crescente procura dos turistas já levaram o Governo Regional, por proposta da Assembleia Legislativa, a estudar o impacto ambiental que os barcos e os turistas têm nas baleias e nos golfinhos.
“Impacto ambiental existe sempre”, referiu Rui Cabral Melo, admitindo a necessidade de existirem “mais regras e procedimentos” na atividade, “mas sem radicalismos”.