O cabeça de lista do Livre por São Miguel manifestou hoje “muita preocupação” com os resultados nas legislativas açorianas, que ditaram a vitória da coligação PSD/CDS-PP/PPM e a descida da esquerda.

“Encaro estes resultados com muita preocupação. Aquilo que nós vemos é uma subida da direita e uma descida muito, muito significativa da esquerda, toda”, afirmou José Manuel Azevedo, em declarações à Lusa por telefone.

O candidato pelos círculos de São Miguel e da compensação (que resulta da soma dos votos não utilizados nos círculos de ilha) admitiu que o Livre tinha “expectativa de crescer com a mensagem” que passou e de que a atuação do governo PSD “tivesse sido suficiente para as pessoas não quererem repetir a solução”, mas, “infelizmente, não foi isso” que se verificou.

“As condições de vida das pessoas, as condições sociais, as condições económicas estão-se a agravar, os jovens não têm emprego, as famílias não têm habitação, os salários são cada vez mais baixos e isso torna as pessoas, infelizmente, mais suscetíveis a ofertas de ideias populistas e a ideias, inclusivamente, antidemocráticas”, considerou.

O biólogo, de 61 anos, reconheceu que o atual cenário o preocupa, que “a continuação de um Governo de direita vai agravar mais a situação” e que não augura “nada de bom para os Açores nos próximos anos”.

“Temos uma mensagem muito consistente, ecologista, progressista, de defesa do Estado social, e essa mensagem, infelizmente, não passa, não tem passado, agora isso não nos desanima porque é a nossa mensagem. É aquilo que nós entendemos como sendo a solução do futuro. E se queremos ter um futuro de justiça social e de justiça ambiental”, frisou, em relação à dificuldade em dar o salto na votação.

Embora o Livre tenha conseguido apenas 735 votos (0,64%), segundo os resultados provisórios da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, quando em 2020 se ficou pelos 362 (0,36%), José Azevedo assegurou que vão continuar a fazer o seu trabalho.

“Vamos reforçar a nossa força, vamos reforçar uma coisa que é essencial, que é o diálogo à esquerda, falar com os nossos camaradas da esquerda para procurarmos em conjunto encontrar soluções que permitam melhorar e dar um futuro melhor às pessoas, em Portugal e nos Açores”, vincou.

“E temos um próximo desafio já no dia 10 de março”, acrescentou, numa alusão às eleições antecipadas para a Assembleia da República.

O também porta-voz da candidatura do Livre às legislativas regionais anteviu “uma situação de instabilidade” no próximo quadro parlamentar pois não lhe parece que este governo “vá ter a estabilidade necessária”.

“Quer dizer, o Chega quer destruir o PSD e o PSD está a destruir-se a si próprio, a procurar imitar o Chega e, portanto, uma solução de governação que será ou com o Chega no Governo ou o Chega a apoiar o PSD, essa solução vai ser altamente instável nos próximos anos e, enquanto o Governo não cair, vai agravar as condições de vida nos Açores”, alertou.

Sobre os próximos desafios para o Livre, José Azevedo reconheceu que há “algum caminho a fazer em estar mais presentes na esfera pública, durante o ano e fora dos períodos legislativos”.

“Essa é uma área em que nós podemos trabalhar. Se o Livre tivesse descido de votação, mas a esquerda tivesse subido, eu pessoalmente ficaria muito contente. O facto de toda a esquerda ter descido é que me deixa preocupado”, concluiu.

A direita parlamentar conquistou a maioria dos deputados da Assembleia Legislativa dos Açores nas eleições de domingo, com a coligação PSD/CDS-PP/PPM, o Chega e a Iniciativa Liberal (IL) a ocupar 31 dos 57 lugares do parlamento.

A coligação PSD/CDS-PP/PPM garantiu 26 deputados, o Chega cinco e a IL um parlamentar, ou seja, mais dois assentos do que os 29 necessários para assegurar uma maioria absoluta.

 

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