A coligação PSD/CDS-PP/PPM, que governa os Açores desde 2020, venceu as eleições legislativas regionais, no domingo, mas ficou a três mandatos da maioria absoluta, num parlamento onde o Chega passou de dois para cinco deputados.

Nas primeiras eleições antecipadas da autonomia, convocadas após o chumbo do orçamento da região para 2024, a coligação manteve o mesmo número de mandatos (26), mas não os suficientes para alcançar a maioria absoluta pedida pelo líder regional do PSD, José Manuel Bolieiro, na campanha eleitoral.

Perante este cenário, o presidente do PSD/Açores e líder da coligação PSD/CDS-PP/PPM, José Manuel Bolieiro, anunciou que irá governar com “uma maioria relativa”.

“Eu governarei com uma maioria relativa. E não se trata de uma minoria, uma vitória nunca é uma minoria, é uma maioria de votos e de mandatos”, afirmou, na sede do PSD/Açores, em Ponta Delgada, ao lado do líder social-democrata, Luís Montenegro.

Quanto aos votos necessários para aprovar orçamentos, Bolieiro defendeu que “não se pode colocar as maiorias relativas em crise com coligações negativas na oposição” e quem o fizer “assume a sua responsabilidade”.

Num parlamento, que mantém as mesmas forças políticas, o Chega reforçou o número de mandatos para cinco. Os deputados únicos de IL e PAN, que, nesta legislatura, votaram favoravelmente orçamentos da coligação, ao contrário do BE, que também elegeu apenas um deputado, não são suficientes para que a coligação alcance uma maioria.

Vasco Cordeiro, presidente do Governo Regional entre 2008 e 2020, recandidatou-se e admitiu que ficou “aquém dos resultados eleitorais que havia fixado como objetivo para estas eleições”, nada dizendo sobre o seu futuro ou uma possível viabilização de um governo da coligação.

Em Lisboa, o presidente do Chega, André Ventura, afirmou que “só haverá estabilidade governativa nos Açores se houver um acordo de governo para os próximos quatro anos”, mas garantiu estar “disponível para começar a trabalhar num processo que “pode vir a ser demorado”, “sustentado em negociações estruturais, sólidas”.

Minutos depois, em Ponta Delgada, o líder regional do partido, José Pacheco, alegou que “não há governo para ninguém” com o CDS e o PPM, que integram a coligação vencedora das legislativas regionais.

“Numa sala em que estejam Artur Lima e Paulo Estêvão, José Pacheco não entra. Sabem como é que se diz aqui em São Miguel? Desengatem-se. Ou então liguem para [o Presidente da República] Marcelo Rebelo de Sousa e marque novamente eleições”, vincou.

Já o líder da IL/Açores, Nuno Barata, que rasgou o acordo parlamentar com o PSD em março de 2023 e votou contra o orçamento da região para 2024, comprometeu-se a ser “oposição firme” e lembrou que José Manuel Bolieiro disse na campanha que “o deputado da IL não faz falta à democracia”.

Além do PS, também o BE viu reduzido o seu grupo parlamentar, passando a ter apenas um deputado.

O coordenador regional do partido, António Lima, reconheceu o “mau resultado” e disse que “a crise política que José Manuel Bolieiro e a coligação provocaram em novembro [na votação do orçamento] tinha o objetivo de reforçar a direita e esse objetivo foi concretizado”.

O porta-voz do PAN/Açores, Pedro Neves, fez “um balanço bastante positivo”, por ter conseguido manter a representação parlamentar, mas sobre possíveis entendimentos, à esquerda ou à direita, nada revelou, remetendo para uma reunião da direção regional do partido.

De fora do parlamento açoriano ficou o deputado Carlos Furtado, eleito pelo Chega, mas que passou a independente em 2021.

Cabeça de lista pelo JPP, que se estreou nas eleições nos Açores, Furtado assumia como meta ser a terceira força política mais votada nestas eleições, mas admitiu que o resultado “ficou um bocado aquém da expectativa, já que esperava, pelo menos, a eleição de um deputado”.

Também a CDU (PCP/PEV), que ambicionava regressar ao parlamento açoriano, não conseguiu eleger um deputado, por 84 votos, segundo o coordenador regional do PCP, Marco Varela, que considerou o “resultado negativo”.

O Livre não conseguiu eleger o seu primeiro deputado nos Açores e o porta-voz regional, José Azevedo, disse encarar os resultados “com muita preocupação”, face a “uma subida da direita e uma descida muito, muito significativa da esquerda, toda”.

O ADN, que concorreu pela primeira vez às regionais, não alcançou mandatos, e o coordenador regional, Rui Matos, admitiu que o resultado “não foi o esperado”, alegando que o partido teve “pouco tempo para a preparação de listas” e para fazer campanha.

A coligação PSD/CDS-PP/PPM venceu as eleições, com 48.668 dos votos (42,08%), elegendo 26 deputados, segundo os resultados provisórios.

O PS ficou em segundo lugar, com 41.538 votos (35,91%) e 23 deputados, e o Chega assumiu-se como terceira força política mais votada, com 10.626 votos (9,91%), que lhe valeram cinco mandatos.

O BE, com 2.936 votos (2,54%), IL com 2.482 votos (2,15%) e PAN, com 1.907 votos (1,65%) elegeram um deputado cada.

Sem representação parlamentar ficou a coligação PCP-PEV, que obteve 1.823 votos (1,58%), assim como o Livre, com 735 votos (0,64%), o JPP, com 625 votos (0,54%) e o ADN, com 381 votos (0,33%). A coligação Alternativa 21 (MPT/Aliança), que viu todas as suas listas rejeitadas em tribunal, com exceção do círculo eleitoral de Santa Maria, conquistou apenas quatro votos.

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