O coordenador do BE/Açores, António Lima, candidato às legislativas regionais, lamentou hoje o “completo abandono” da cultura pelo poder público do arquipélago e defendeu a criação de uma “verdadeira política” para o setor, com apoios mais estáveis e previsíveis.

“Defendemos a existência de uma verdadeira política cultural, acima de tudo. Sem uma política cultural, tudo o resto anda à deriva. Nós precisamos de um orçamento decente para a cultura e políticas de apoio à produção cultural que tenham uma perspetiva de médio prazo”, afirmou o cabeça de lista pelos círculos de São Miguel e da compensação às regionais de 04 de fevereiro.

Depois de na apresentação do programa eleitoral, no domingo, ter afirmado que é necessário “deixar de olhar para a cultura como o parente pobre”, o deputado regional quis marcar o segundo dia da campanha com um alerta sobre o setor, tendo como cenário o Cineteatro Miramar, em Rabo de Peixe (concelho da Ribeira Grande).

O espaço, adquirido pelo Governo dos Açores a um privado em 2003 e gerido pelo Teatro Micaelense desde 2004 (ano em que teve obras, já que tinha estado desativado), é sede da Escola de Música de Rabo de Peixe, tem uma biblioteca e ludoteca, mas o auditório, com 120 lugares, não tem programação permanente, servindo pontualmente para eventos e formações.

Em 2023, depois de ter sido noticiado que a sua venda em hasta pública constava de uma assembleia-geral do Teatro Micaelense, o BE levou ao parlamento uma recomendação para manter o equipamento na esfera pública, aprovada já depois de o presidente do executivo, José Manuel Bolieiro (PSD), ter dito que a alienação não aconteceria.

“Pretendemos que este teatro seja desenvolvido, este e outros na região, e que a produção cultural chegue às pessoas, envolvendo a comunidade”, referiu o dirigente, sublinhando que “a cultura está de rastos”.

Na sua opinião, a governação da coligação de direita (PSD/CDS-PP/PPM) tem mostrado desprezo pelo trabalho dos agentes culturais – que não faltam e podem produzir mais -, inclusive com “apoios que não chegam a tempo e horas”. Há praticamente um ano, disse, que o setor aguarda apoios prometidos pelo executivo, havendo casos de produtores que conseguem maior estabilidade e previsibilidade com financiamentos de âmbito nacional.

“Há muitos agentes culturais nos Açores, felizmente, em todas as ilhas – imensos grupos distintos, associações, que produzem imensa cultura com muita qualidade. E falta-lhes efetivamente apoio, orçamento. Muitas vezes o orçamento da cultura da região é reduzido, aliás, viram-se este ano, com uma maior intensidade, cortes brutais nos apoios à cultura, que ninguém esperava”, lamentou.

Ainda sem querer, tal como na pré-campanha, falar de possíveis acordos pós-eleitorais à esquerda, António Lima fez questão de repetir as críticas à direita e de deixar um aviso: “Aquilo que significaria uma maioria absoluta do PSD, do CDS-PP e do PPM seria um abandono absoluto da cultura nos Açores”.

O diálogo com o PS, referiu, nunca foi negado no passado, mas esta é, para o Bloco, altura de apresentar propostas.

“Estamos disponíveis, eventualmente, para conversar. Uma coisa é conversar, outra coisa é aquilo que sairá dessas conversas. Não é possível falar se não tivermos votos”, afirmou.

Além do BE, há 10 candidaturas na corrida eleitoral: PSD/CDS-PP/PPM, ADN, CDU (PCP/PEV), PAN, Alternativa 21 (MPT/Aliança), IL, Chega, PS, JPP e Livre.

 

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