Mais de 700 cabeças de gado retidas nos Açores. Falta de contentores, rotas incertas, mercadoria perecível sem escoamento.
Esta realidade, por mais recorrente que seja, não pode ser normalizada. Aliás, o que hoje vemos é apenas mais um episódio que revela o verdadeiro bloqueio da nossa agricultura, não por falta de qualidade, nem por ausência de esforço dos produtores, mas por falta de estratégia governativa e de operacionalização eficaz das soluções.
O Governo Regional apresenta como conquista a homologação dos contentores de transporte de gado, agora feita nos Açores. E sim, é um avanço. Mas de pouco serve celebrar esta medida se os contentores homologados não saem do porto.
A homologação só é útil se estiver integrada num sistema logístico que funcione: com contentores disponíveis, navios a operar com regularidade e uma cadeia de transporte pensada para servir a produção agrícola. A verdade é que o problema está longe de ser técnico, é político. E é estratégico.
A ausência de planeamento, a descoordenação entre setores e a incapacidade de antecipar constrangimentos logísticos demonstram que este Governo continua a tratar os transportes como um detalhe, quando deveriam ser uma prioridade.
Casos como os da Graciosa, do Pico, das Flores ou de Santa Maria não são pontuais: são sintomas de uma estrutura de transportes desajustada às necessidades da produção agrícola dos Açores. E este desajuste tem um custo real: retém rendimento, penaliza o investimento e frustra os agricultores que, de boa-fé, acreditaram nas promessas feitas de que a reconversão do setor leiteiro para a carne seria uma solução de futuro.
Mas essa reconversão exigia, no mínimo, garantir as condições de escoamento. Impuseram-se mudanças sem criar as condições para que fossem sustentáveis. E quando o gado não sai da ilha, o prejuízo instala-se.
O Partido Socialista defende que a agricultura é, e continuará a ser, um dos principais motores do desenvolvimento regional. E para que esse motor funcione, não basta dizer que se apoia a produção. É preciso garantir que o que se produz chega aos mercados em tempo útil, com previsibilidade e competitividade.
Tem sido uma reivindicação constante do Partido Socialista a implementação de um modelo de transportes marítimos moderno, eficiente e justo, que assegure não só o menor custo no acesso ao exterior, mas também a coesão interna entre as ilhas. Essa visão está também refletida na moção “Um Novo Futuro”, onde se reafirma a necessidade de um sistema que integre fluxos contentorizados, rotas fiáveis, ligação com outros modos de transporte e forte investimento público nas ligações inter-ilhas.
O objetivo é claro: garantir que nenhuma ilha fica para trás e que os produtores têm condições para competir e prosperar.
É preciso pôr fim a esta política de improvisos, que vai apagando fogos com baldes vazios.
O que se exige é capacidade e vontade política para implementar uma estratégia integrada e funcional para os transportes, uma estratégia que sirva os agricultores e a economia regional.
Quem governa não pode apenas aplaudir contentores parados. Tem de garantir que eles andam, e que andam ao serviço de quem trabalha todos os dias para fazer da agricultura um pilar sólido do nosso presente e um compromisso com o futuro.