A série portuguesa “Rabo de Peixe”, que se estreia na quinta-feira na Netflix, resulta de uma “maneira diferente” de trabalhar, que depende mais de exigência e preparação do que de orçamento, disseram à Lusa o criador e a produtora.
“Rabo de Peixe”, de Augusto Fraga, produzida pela Ukbar Filmes, é a segunda série portuguesa de ficção pensada para aquela plataforma de ‘streaming’, depois de “Glória” (2022), de Tiago Guedes, produzida pela SPi e a RTP.
A série de ficção, correalizada por Augusto Fraga e Patrícia Sequeira, foi um dos dez projetos vencedores de um concurso de argumento promovido pela Netflix com o Instituto do Cinema e do Audiovisual.
“Rabo de Peixe”, que ficará disponível para mais de uma centena de países e territórios da Netflix, é ainda a primeira série de ficção de um realizador açoriano cujo percurso no audiovisual passa sobretudo pela publicidade a nível internacional.
Em entrevista à agência Lusa, Augusto Fraga disse que este era “o momento certo” para fazer esta série, precisamente pela entrada da Netflix no mercado português e pelas obrigações de investimento no território nacional.
“Quando começámos a escrever e quando começámos a filmar e a montar, o nosso padrão era o padrão da Netflix. Ou seja, visualmente, [em termos] de qualidade de som, de qualidade de emoções, que é mais importante, nós queremos chegar a esse padrão”, sublinhou Augusto Fraga.
Quando questionado se o orçamento – nunca divulgado – foi uma vantagem para esse objetivo, Augusto Fraga apontou outras razões.
“Eu acho que não tem nada a ver com o orçamento. Eu acho que há uma exigência que nós temos que pôr no trabalho que é feito em Portugal, de preparação, que vem da escrita”, disse.
“Rabo de Peixe” parte de um acontecimento verídico ocorrido em 2001, quando um veleiro naufragou com meia tonelada de cocaína a bordo, tendo grande parte da droga dado à costa próximo de Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel.
A partir desses factos, foi construída uma ficção sobre quatro amigos que, na posse de vários quilos de droga, ambicionam mudar de vida, e sobre uma investigação policial sobre a origem da cocaína.
Na série, os quatro amigos são interpretados por José Condessa, Helena Caldeira, Rodrigo Tomás e André Leitão, mas entram ainda outros nomes como Albano Jerónimo, Maria João Bastos, Afonso Pimentel, Pêpê Rapazote e Adriano Carvalho.
No núcleo duro de trabalho desta série estiveram ainda o montador Marcos Castiel e o diretor de fotografia André Szankowski.
Na história, que combina policial, aventura, comédia, drama, “sobretudo atraiu-me a ironia divina de fazer isso acontecer nos Açores. Ou seja, é o mundo mais corrupto, do dinheiro e da luxúria máxima que vai tocar um dos sítios mais puros do mundo”, afirmou Augusto Fraga.
Para a produtora Ubkar Filmes, que já trabalhou para outras plataformas de ‘streaming’, esta foi uma estreia para a Netflix.
“Todos os meios técnicos são portugueses. É uma série feita com autores portugueses, com elenco português, a integralidade da pós-produção portuguesa. Todos os efeitos digitais, música, foi tudo feito por técnicos portugueses”, elencou a produtora Pandora da Cunha Telles.
A plataforma entrou com o orçamento, mas também com um “acompanhamento muito grande de cada uma das fases do projeto”, disse.
A entrada das plataformas de ‘streaming’ no mercado português, até por via da transposição da diretiva europeia sobre o audiovisual em 2022, pode, segundo Pandora da Cunha Telles, encorajar o “imenso talento em Portugal” a mostrar-se.
“Este é o início da vaga. Há ideia de que não temos os ‘surfers’ para estar em cima dessa vaga, mas temos os ‘surfers’ para estar em cima da vaga: São o elenco, que está nas séries internacionais, temos realizadores, argumentistas, temos equipas técnicas ótimas. Só faltava a oportunidade e agora está aí a oportunidade. Ficámos todos na praia à espera que chegasse a onda para poder saltar para cima dela. E agora chegou a onda”, comparou Pandora da Cunha Telles.
Augusto Fraga disse que há margem para uma segunda temporada de “Rabo de Peixe”. Mesmo sendo uma história com grandes marcas locais, da cultura portuguesa e dos Açores, em particular, tem potencial internacional.
“Eu acho que isso é o que nos vai compensar. Que, afinal, podemos fazer histórias profundamente locais, mas que tenham acabamento ao nível do que nós vemos nas outras histórias que não são de cá”, disse.