Nem a propósito do meu artigo de opinião da passada semana, ao dia de hoje é já conhecida, ou pelo menos, anunciada a conclusão do estudo de avaliação para o aumento da pista do aeroporto do Pico. Estudo esse, com um custo de mais de duzentos mil euros e um prazo de execução de 150 dias, que foi entregue, ou pelo menos, revelado com um atraso de mais de 8 meses. As declarações da secretária com a pasta dos transportes e mobilidade, onde afirma que “existem obstáculos significativos à ampliação da pista”, deveriam ter caído como uma bomba na ilha montanha. Mas para já poucos são os que se manifestaram, à excepção do Grupo do Aeroporto da ilha do Pico e alguns empresários locais a título individual.
Não posso deixar de notar, que no governo da “transparência”, até agora o estudo que sustentaria esta decisão não foi tornado público. Isso levanta uma questão crucial: o que realmente impede o avanço deste projeto? Será que estamos a enfrentar problemas técnicos intransponíveis, ou estaremos perante um cenário onde a falta de vontade política e os interesses de alguns ditam o rumo?
Ao longo das últimas eleições regionais, tanto os candidatos do PSD quanto do PS têm criado repetidamente a expetativa da realização de diversas obras, e a obra de ampliação da pista do aeroporto do Pico era uma delas. Promessas foram feitas com grande entusiasmo, fazendo os picarotos acreditarem que a ampliação desta infraestrutura era iminente. No entanto, agora veem-se novamente frustrados com o anúncio de mais um estudo, adiando, mais uma vez, a tão esperada obra. Talvez não fosse má ideia que, antes de prometerem, os políticos aguardassem os resultados dos estudos e só depois se pronunciassem, evitando assim alimentar esperanças que não se concretizam e respeitando a confiança dos eleitores. Basta olhar para os títulos dos jornais onde populam as notas de imprensa, saídas dos gabinetes das dezenas e dezenas de técnicos especialistas, para entender que este é também o governo das boas intenções – “quer lançar…”, “quer fazer…”. Gostaríamos de ler nos jornais algo como “já está a fazer” ou até mesmo “está a concluir”.
O tema que eu queria trazer hoje, neste artigo de opinião, é o que diz respeito à Saúde do Pico. E como vai a Saúde do Pico? Não sendo médica, diria que a olho nu vai mal. Para que um lugar de futuro seja realmente possível, é indispensável garantir uma saúde robusta, universal e que traga segurança para a sua população – algo que, lamentavelmente, a Unidade de Saúde da Ilha do Pico (USIP) não tem conseguido proporcionar. Atualmente, a ilha conta com três infraestruturas debilitadas e carenciadas, tanto ao nível de equipamentos como de recursos humanos, forçando a população a ir todos os dias ao Faial, até para receber o resultado de análises. Fixar médicos na ilha tornou-se uma miragem. No início de janeiro, aquando das eleições regionais, renovaram-se promessas da construção de um novo centro de saúde nas Lajes, onde o processo de aquisição do terreno, anunciado na celebração do dia da Região em 2023 nas Lajes do Pico, já vai atrasado. A renovação do centro de saúde de São Roque também está no rol de promessas, e o aumento do centro de saúde da Madalena, que em tempos idos prometia poder-se nascer no Pico, e ainda não permite sequer a realização de ecografias, forçando as grávidas a deslocarem-se de barco diariamente ao Hospital da Horta.
Ao atual governo, nada disto parece preocupar, pois, a Unidade de Saúde da ilha do Pico encontra-se à deriva. Em vez de se nomear um conselho de administração com formação e competência, assistimos a braços de ferro e egos políticos. A lista para a presidência do Conselho de Administração parece ser pequena em contraste com a enorme lista de espera “fantasma” das poucas especialidades que a USIP oferece. Pena que essa lista não traga aos picarotos, um gestor ou engenheiro com formação na área da saúde, como bem pede o cargo e o seu futuro. Mais um futuro adiado.