No passado domingo, 9 de junho, tivemos (outra vez) eleições. E, passados dois meses desde as eleições legislativas, os resultados foram outros. Não drasticamente diferentes, mas, mesmo assim, diferentes e com leituras importantes.
Os vencedores: o Partido Socialista e a Iniciativa Liberal. Os derrotados: o Chega e a Aliança Democrática.
Vamos começar pelos derrotados. E aqui há algo que merece um grande destaque. A descida, quase para metade, da votação do partido de extrema-direita. Ou os abstencionistas (que decidiram ir votar Chega nas legislativas) desistiram de votar por se tratarem de eleições europeias, ou não sentiram motivação suficiente com o candidato… Ou, ainda, perceberam, finalmente, que o voto neste partido é um desperdício. Sim, um desperdício. Pois, não trazendo ganhos que se façam sentir na vida do dia a dia, assumem-se, cada vez mais, como um risco demasiado elevado para a Democracia portuguesa. Gostava mesmo de acreditar que em causa estaria esta última opção. No entanto, tenho quase a certeza que o que pesou foram as duas primeiras. A extrema-direita cresceu em toda a Europa, exceto em Portugal. Isto diz algo sobre o nosso país, sem dúvida. Mas diz ainda mais sobre o perigo que se adivinha e que, sim, pode colocar em causa o projeto europeu e o país que somos.
Quanto à AD… A AD perde, sem perder. E o que quer isto dizer? Perde porque fica em segundo lugar, mas, mesmo assim, cresceu em percentagem, nomeadamente em relação às últimas europeias. Contudo, os eleitores podem mesmo não ter apreciado a campanha eleitoral em formato de governação. Ou a governação em tom de campanha eleitoral, se preferirem. Não podemos ter limites tão desvanecidos entre o que é ser governo e ser partido. Entre o que é governar e fazer campanha. Esse registo manteve-se até ao discurso do final da noite de Luís Montenegro. No entanto, foi neste discurso que o líder da AD conseguiu salvar a noite da coligação e garantir uma manchete melhor do que a derrota da Aliança Democrática. Como? Com a declaração de apoio à eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu.
Sobre os vencedores… Quando digo que a Iniciativa Liberal foi a grande vencedora da noite, na verdade quero dizer que João Cotrim de Figueiredo foi esse grande vencedor. Esta vitória dá alento à IL, dá alento à direita, tira força à extrema-direita, mas cria um problema na IL. A liderança de Rui Rocha está enfraquecida. E bastou o regresso nostálgico de João Cotrim de Figueiredo, forte e carismático, que os liberais logo cresceram.
O outro vencedor da noite foi o Partido Socialista. Regressa às vitórias e, por mais que Luís Montenegro tente dizer que não, estes resultados têm uma leitura nacional. O Partido Socialista, enquanto oposição, tem feito um bom trabalho. E o país reconheceu isso nas urnas. A eliminação das portagens nas antigas SCUT, o aumento da dedução de rendas em sede de IRS, dos 600€ para os 800€, a exclusão dos rendimentos dos filhos enquanto condição para o acesso ao complemento solidário para idosos, o alargamento do apoio ao alojamento estudantil para os estudantes deslocados da classe média e, mais recentemente, a redução do IVA da eletricidade para a taxa reduzida para mais de 3 milhões de famílias. Tudo isto a par, obviamente, do impacto dos cabeças-de-lista em jogo. Ainda que possa não ter sido a figura mais marcante dos debates, Marta Temido já estava na memória de todos (mais do que Sebastião Bugalho e a sua recente ascensão enquanto comentador). E estava na memória de todos como aquela que, em tempos de pandemia, desconhecimento e medo, todos os dias deu a cara e a voz para explicar medidas, assumir falhas, redefinir estratégias e anunciar conquistas. Todos os dias, Marta Temido, então Ministra da Saúde, ali estava, para que não nos sentíssemos sozinhos, para que sentíssemos que havia mesmo quem estivesse a tentar encontrar respostas, vacinas e um dia seguinte melhor. Isso refletiu-se na campanha de rua e proximidade. E também nos recordou do quão importante e bonito é o projeto europeu.
E termino precisamente com esse lembrete que acaba por ser, também, um pedido. Que, nas próximas eleições europeias, possamos reduzir ainda mais a abstenção e lembrar ainda mais a razão e a missão deste projeto, que é muito mais do que fundos, uma moeda única e fronteiras abertas. Muito mais.