Confesso que fiquei incrédulo com uma proposta impensável. Sobretudo, ainda estou a estranhar o silêncio do governo regional. Esperei quase três semanas para perceber se haveria uma tomada de posição pública a recusar algo inacreditável. Refiro-me à ideia de abrir creches sem educadores de infância, na prática eliminando a sua dimensão educativa. Se juntarmos a abertura do governo regional para excluir crianças em função da situação social dos pais, dá para perceber que, por aqueles lados, a creche é vista mais como um armazém de crianças do que como uma importantíssima valência social, onde se promovem aprendizagens fundamentais para o desenvolvimento equilibrado da criança, que condicionam, de forma positiva, todo o seu futuro.

É pública a proposta da URIPSSA, de que as creches possam abrir sem nenhum educador de infância. O argumento apresentado, da falta de profissionais, não tem grande validade, depois de reconhecido que o problema resulta da procura de melhores condições de trabalho… ou seja, optou-se pela solução mais fácil, em vez de, por exemplo, se proporem melhores horários de trabalho, para atrair mais recursos humanos! Não está aqui em causa o importante papel social desenvolvido pelas IPSS, muitas vezes colmatando as falhas das políticas públicas da Região. O que está em causa é que as creches precisam de educadores de infância para cumprir o seu papel: promover aprendizagens essenciais, realizar atividades educativas, desenvolver interações entre crianças e adultos. Sem desvalorizar a necessidade de outros profissionais qualificados, o que permite à creche cumprir a sua dimensão educativa é a presença de um educador de infância.

O que tudo isto demonstra é que o PCP tem razão, ao defender que é urgente criar uma rede pública de creches, alargar e aumentar as prestações sociais, em particular o abono de família, e reforçar os direitos de maternidade e paternidade. O que tudo isto demonstra, como há muito afirma o PCP, é que é urgente uma outra política para a natalidade. Mas isso já será assunto para outro artigo.

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