A utilização de manuais digitais nas escolas dos Açores deve ser acompanhada de outros recursos, nomeadamente, de manuais em papel, para facilitar as aprendizagens, defenderam hoje o Governo Regional e o Sindicato Democrático dos Professores.
“O manual digital não é, de forma alguma, nunca foi, nem pretendeu ser, o único recurso em sala de aula. O manual digital é um recurso portentoso, que deve ser usado, acompanhado de outros recursos e materiais via papel”, explicou a secretária regional da Educação, Sofia Ribeiro, durante uma audição parlamentar na Comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Regional, reunida em Ponta Delgada.
António Fidalgo, do Sindicato Democrático dos Professores dos Açores (SDPA), também ouvido pelos deputados, diz que a realidade nas escolas do arquipélago (onde os manuais digitais foram introduzidos há apenas três anos) não é bem essa e que a utilização de manuais digitais e de em papel, em simultâneo, seria, de facto, o ideal.
“Isso seria o melhor dos mundos! Eventualmente, se nós pudéssemos ter as ferramentas digitais e, ao mesmo tempo, termos o manual em papel, se pudermos trabalhar com os dois, seria o melhor dos mundos”, insistiu o docente, acrescentando não saber se haverá, no entanto, capacidade financeira, por parte da tutela, para seguir esse caminho.
A utilização de manuais digitais nas escolas tem gerado opiniões divergentes, entre aqueles que elogiam o recurso a novas tecnologias nas aprendizagens e os que alertam para os riscos excessivos que a exposição dos ecrãs pode ter nas crianças em idade escolar.
O deputado do Bloco de Esquerda ao parlamento açoriano, António Lima, apresentou uma proposta na Assembleia Regional que defende a restrição no uso de manuais digitais e também a proibição do uso de telemóveis nos recreios das escolas para os alunos do 1º e do 2º ciclo do ensino básico.
João Filipe Matos, especialista na área da Educação e responsável pela implementação do projeto dos manuais digitais no arquipélago da Madeira (que está em fase mais avançada, em relação aos Açores), também ouvido pelos deputados, concorda com as restrições à utilizam de ‘smartphones’ aos alunos, sobretudo aos de mais tenra idade, mas já tem muitas reservas em relação às restrições a impor aos manuais digitais.
“Alguns destes alunos já há três anos que não utilizam uma mochila pesada, uma vez que só usam um ‘tablet’ mas, ao mesmo tempo, uma boa percentagem deles passa muito tempo no telemóvel”, referiu o especialista, baseando-se num estudo efetuado junto das escolas da Madeira.
Além dos sindicatos dos professores e da tutela, a Comissão de Assuntos Sociais já ouviu também a Secção dos Açores da Ordem dos Psicólogos e a Associação Desliga (criada para alertar para os riscos da internet), que manifestaram preocupações com a excessiva utilização de ‘tablets’ e ‘smartphones’ nas escolas.