No passado domingo, os eleitores dos 27 Estados-membros da União Europeia escolheram os 720 deputados, mais 15 do que na legislatura anterior, que os irão representar ao longo dos próximos cinco anos. Numa perspetiva global e, no plano internacional, o PPE é o grande vencedor das eleições europeias, na medida em que ganhou 10 mandatos, em perspetiva comparada com a legislatura anterior. Por outro lado, Socialistas (S&D) e os Liberais (RE), perdem, em conjunto 27 mandatos, o que corresponde a uma perda considerável de representação parlamentar destas duas famílias europeias. Mais à direita, os Conservadores (ECR) e a Extrema-direita (ID) são os que apresentam ganhos mais substantivos, tendo conseguido, em conjunto, mais 13 mandatos do que na legislatura anterior.

Tal como as sondagens nos indicaram, ao longo dos últimos tempos, o parlamento europeu virou à direita, contudo, creio ser consensual quando digo que a viragem não terá sido tão abrupta quanto alguns estudos faziam prever. Se pensarmos numa questão de agenda política, em 2019 o assunto central era as alterações climáticas e os desafios inerentes a esse flagelo. Atualmente, segurança e migrações estão na ordem do dia, no que à ação política diz respeito.

Na Ciência Política, há uma teoria que sugere que as eleições se distinguem pela sua saliência. Ora, por um lado existem eleições de primeira ordem e, por outro, eleições de segunda ordem. As primeiras ocorrem quando se determina quem governa (legislativas), as segundas, são as outras (europeias ou autárquicas). Naturalmente que a distinção entre eleições de primeira ou de segunda ordem trazem consigo implicações. Para aquilo que estamos a analisar, é relevante perceber que tipo de implicações albergam as eleições de segunda ordem, como é o caso das europeias. Neste tipo de atos eleitorais, os partidos de menor dimensão tendem a ser recompensados, enquanto os grandes partidos tendem a ser punidos. Além disso, os partidos de governo também tendem a ser mais punidos em comparação com os demais. Foi precisamente isso que aconteceu, em Portugal.

Por cá, o vencedor das eleições foi o Partido Socialista, apesar de ter diminuído a sua representação parlamentar num mandato, passando de 9 para 8 mandatos, se pensarmos na sua representação parlamentar. É certo que as diferentes retóricas, quer à esquerda quer à direita do espectro político tentam menorizar esta vitória. Para mim, é inequívoca. Por um voto se ganha, por outro se perde. Mas afinal, o que nos dizem os resultados? Os resultados indicam-nos que os eleitores beneficiaram os partidos de menor dimensão, como é o caso da Iniciativa Liberal. De facto, os liberais superaram todas as expectativas, naquilo que foi o resultado alcançado na noite eleitoral de domingo, possivelmente pelo facto de o seu cabeça de lista, ter um considerável capital político e atenção mediática no panorama nacional. O Chega foi, porventura, o grande perdedor, mesmo tendo em conta que em 2019 não se tinha submetido a sufrágio e passou de não representado, a garantir 2 mandatos, no Parlamento Europeu. O desfecho eleitoral do partido de extrema-direita ficou inequivocamente aquém das expectativas, sobretudo se analisarmos o contexto internacional, um pouco por toda a União Europeia. A AD, em conjunto, não conseguiu distanciar-se de forma significativa do resultado alcançado por PSD e CDS, em separado, em 2019. A escolha de Bugalho, não parece ter garantido grandes benefícios à coligação que governa Portugal. Finalmente, os eleitores começam a demonstrar, de forma contínua, um notável desagrado com as políticas dos partidos políticos mais à esquerda, pelo que, foi preciso esperar até ao final da noite eleitoral para BE e CDU garantirem a manutenção de representação parlamentar na Europa. Esta foi, sem dúvida, uma bolha de oxigénio fundamental para as respetivas lideranças partidárias. Ainda devo dar nota para o PAN, visto que perdeu a representação parlamentar conquistada em 2019. De facto, a campanha do partido foi marcada por algum desnorte e uma falta de capacidade para passar a sua mensagem ao eleitor, de forma eficaz.

Não podia terminar esta análise, sem abordar a questão dos Açores. Este foi, de facto, um dia histórico para o arquipélago, dado que consegue garantir, pela primeira vez na História da Democracia, a eleição de três eurodeputados açorianos, nomeadamente um pelo PS, um pela AD e um pela IL. Ora bem, tendo em conta que nos encontramos numa região ultraperiférica, com todos os desafios inerentes a essa situação, o reforço desta representação parlamentar pode ser absolutamente determinante nos desígnios da Região.

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