O Hotel Azoris Royal Garden recebeu na passada semana, a oitava edição do International Hybrid Power Plants & Systems Workshop, organizado pela empresa Energynautics, GmbH, com a parceria da empresa local EDA -Electricidade dos Açores, S.A..
Este workshop, que tem vindo a ser organizado por esta empresa alemã desde 2018, oferece um ambiente propício à discussão do futuro dos sistemas elétricos e das centrais híbridas, em particular das redes isoladas geográfica ou eletricamente, como é o caso das ilhas. Neste evento, os participantes têm a oportunidade de analisar a aplicação de inúmeras soluções em diversas zonas geográficas e em diferentes ambientes operacionais em termos de desenho das soluções, experiências adquiridas, questões de implementação, modelos de negócios e modos de financiamento. Este evento tem vindo a reunir operadores de redes de pequenas dimensões, técnicos ligados ao planeamento e projeto de sistemas elétricos, gestores de projetos, fornecedores de tecnologias de produção e de armazenamento, universidades e institutos, reguladores e consultores.
Face ao desafio lançado pelo organizador em 2023, a empresa EDA – Electricidade dos Açores, S.A., que tem vindo a marcar presença em diversas edições, cooperou na organização da oitava edição do evento, para que o mesmo fosse realizado nas Ilhas dos Açores, com vista a dar uma maior visibilidade aos projetos realizados nestas ilhas, e contribuir para a participação no evento de entidades locais.
A sessão de abertura do evento contou com a presença de Joana Ferreira Rita, Diretora Regional da Energia, que em representação da Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, fez o discurso de boas-vindas aos participantes, e realizou a apresentação sobre a Estratégia Açoreana 2030 – ponto de situação atual. Em seguida discursou Paulo André, Presidente do Conselho de Administração da EDA, que fez uma apresentação sobre a produção de energia elétrica nas nove Ilhas dos Açores, e Fernando Henriques, Diretor de Inovação e Planeamento Técnico da EDA, que falou sobre os desafios para o setor elétrico do Roteiro para 100% de Energia Renovável nos Açores. Esta sessão fechou com uma apresentação de Duarte Silva, da empresa Graciólica, que apresentou o projeto pioneiro do Sistema de Produção Híbrido da Ilha Graciosa.
O workshop decorreu ao longo de dois dias, através de três sessões paralelas, nas quais foram realizadas 76 apresentações e que contou com a presença de 160 participantes de vários países. Três destas apresentações tiveram como tema projetos realizados para e nos Açores. A apresentação da Siemens, abordou a aplicação de sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS) em micro-redes, tendo por base o caso das Ilhas dos Açores, a do INESC TEC, incidiu sobre estudos da integração de centrais fotovoltaicas suportadas por sistemas BESS nas ilhas açorianas, e a da EDP NEW, divulgou o projeto IANOS que prevê a instalação de tecnologia e otimização do fluxo de energia para a autossuficiência energética na Ilha Terceira.
Houve ainda lugar para uma apresentação realizada pela DTU, que efetuou uma análise comparativa entre casos de sucesso de integração de produção renovável em territórios insulares europeus, e a realidade da Ilha de Man. As Ilhas dos Açores surgiram nesta apresentação como casos de êxito em ilhas ultraperiféricas eletricamente isoladas de zonas continentais, a par das Ilhas Faroé, Canárias e Madeira. As Ilhas de Samsø, Orkney (Órcades) e Bornholm foram apresentadas como casos de êxito em ilhas com interligações ao continente europeu que, tratando-se de realidades muito distintas, podem apresentar quotas de produção renovável líquida anual superiores a 100% do consumo local. As interligações à rede continental europeia introduzem uma elevada robustez aos sistemas elétricos dessas ilhas e flexibilidade à sua produção, viabilizando o sobredimensionamento de instalações de produção renovável. Estes sistemas podem operar um conjunto de centrais renováveis com uma capacidade instalada significativamente superior às necessidades locais, exportando para a rede continental o excedente de energia produzida, e importando a energia necessária para fazer face aos períodos em que a produção renovável local não é suficiente para abastecer o consumo. A Ilha de Eigg, uma pequena ilha com cerca de 100 residentes, com uma capacidade de produção de energia elétrica significativamente inferior à da Ilha do Corvo, foi também apresentada como um caso de sucesso de uma ilha eletricamente isolada. No entanto, para que seja garantido o abastecimento integral de energia elétrica nesta ilha através de renovável, são impostos limites máximos de utilização de energia elétrica a todos os clientes, uma vez que a produção atual da ilha não tem capacidade para alimentar fogões elétricos, águas quentes ou sistemas de aquecimento. Verificou-se ainda que os preços da eletricidade nestas ilhas com maior quota de produção renovável são significativamente superiores aos praticados nos Açores, que beneficiam da convergência tarifária praticada em Portugal.
A sessão de encerramento do evento contou com um painel de discussão relativo ao tema “Soluções para a integração de energias renováveis que permitam uma transição energética segura nas ilhas”, que foi moderado pelo Eng.º Paulo André da EDA, e composto por representantes do NREL, Hitachi, Siemens, Wartsila e Enercon. Nesta sessão final, foram debatidas diversas questões, tais como a necessidade de soluções viáveis para se atingir as metas da descarbonização, a necessidade de esclarecer os decisores políticos e a sociedade em geral sobre os diferentes contextos e realidades locais que dificultam a obtenção de elevadas quotas de produção renovável, a viabilidade de abdicar das formas de produção convencionais com base em combustíveis fósseis, a aplicação de estratégias de controlo inteligentes em sistemas de produção híbridos e na gestão de consumos, e os desenvolvimentos tecnológicos que poderão vir a ter mais impacto a curto/médio prazo.
No dia 16 de maio, o Grupo EDA proporcionou uma visita de estudo às suas instalações a participantes do evento, nomeadamente à Central Termoelétrica do Caldeirão, ao Sistema de Armazenamento de Energia em Baterias, à Central Geotérmica do Pico Vermelho e à Central Hídrica dos Tambores.