A maioria da população açoriana tem no máximo o 6.º ano de escolaridade, indicou a secretária regional da Educação do arquipélago, referindo que a nível nacional metade dos residentes possui o 9.º ano ou acima.

“Enquanto no resto do país a maioria das habilitações dos portugueses se verifica ao nível do 3.º ciclo ou superior – 50% dos portugueses no resto do país detêm habilitações de 3.º ciclo (9.º ano) ou mais –, nos Açores estamos exatamente ao contrário. Nos Açores, a maioria da população açoriana ainda detém habilitações somente até ao 2.º ciclo do ensino básico (6.º ano)”, avançou, numa entrevista à Lusa, Sofia Ribeiro.

Este é um dos dados de um estudo realizado no âmbito da Estratégia da Educação Açores 2030, que será apresentada na quinta-feira, em Angra do Heroísmo, explicou a secretária regional da Educação, Cultura e Desporto do executivo PSD/CDS-PP/PPM.

O estudo regional identificou ainda uma ligação entre as habilitações dos habitantes e o Produto Interno Bruto (PIB) do município: “Há uma clara correlação, em que os municípios com maior habilitação dos seus munícipes são municípios mais ricos”, afirmou Sofia Ribeiro.

Ponta Delgada (ilha de São Miguel), Angra do Heroísmo (Terceira), Horta (Faial) e Vila do Porto (Santa Maria) são os municípios açorianos em que o PIB é mais elevado assim como a escolaridade dos seus habitantes.

Já no fim da tabela surgem os outros cinco municípios da ilha de São Miguel (Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação e Nordeste), onde vive a população com menos escolaridade.

Sobre os motivos para a baixa escolaridade de grande parte dos açorianos, a secretária regional recordou outros estudos que indicam “que há uma influência relativamente à tradição da família na valorização do trabalho e do estudo”: “Há uma questão quase tradicional que é preciso inverter.”

O trabalho regional faz “uma análise das habilitações dos açorianos, município por município”, comparando-os entre si e com os números do todo nacional, do continente e da Madeira.

Os dados agora divulgados vão ao encontro do “Retrato dos Açores” de 2023, da Pordata, que mostrava que 63% da população entre os 16 e os 89 anos nos Açores não tinha o ensino secundário, quando a nível nacional esse número baixava para 50%.

Já quando analisada a população com ensino superior, os Açores apresentavam uma taxa de 16%, inferior à registada na média nacional (24%).

Questionada sobre uma possível relação entre os índices de pobreza e o abandono escolar precoce nos Açores, Sofia Ribeiro disse que não é possível fazer essa associação “com rigor técnico”, porque os dados não são facultados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Segundo a governante, a Estratégia da Educação vai permitir também identificar os alunos que abandonaram a escola precocemente, ou seja, aqueles que, não tendo completado o 12.º ano, não se matricularam.

“Não temos histórico. Foi um trabalho que foi feito pela primeira vez no início deste ano letivo. A partir daqui vamos construindo esse histórico”, indicou.

A secretária regional estima que a estratégia comece a ser implementada ainda em 2024, depois de integrar os contributos recolhidos.

Segundo o INE, em 2023, a taxa de abandono precoce da educação e formação nos Açores atingiu os 21,7%, quase três vezes mais do que a média nacional (8%).

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