Estão anunciadas, ou até já em curso, inúmeras iniciativas com o propósito de celebrar os 50 anos de Abril. Exposições, livros, conferências, debates, desfiles, sessões solenes, etc… Há eventos para todos os gostos. Espero, por isso, que cada um de nós encontre a melhor forma de assinalar tão importante efeméride. Ficar em casa, ir passear ou viajar são outras opções. Mas há mais. Cada um de nós faz aquilo que lhe apetecer. Essa é uma das conquistas de Abril: ter a liberdade! E é nessa liberdade que, infelizmente, digo que não temos grandes razões para festejar efusivamente. O estado da arte, passados 50 anos, não é motivo para fogo de artifício. O País está confrontado com problemas gravíssimos. Aos parcos rendimentos auferidos pela esmagadora maioria dos portugueses; à precariedade laboral; às dificuldades sentidas para suportar o crescimento do crédito à habitação ou para aceder ao mercado de arrendamento; ao permanente caos no Serviço Nacional de Saúde; à conflitualidade numa área central do sistema de educação e insuficiência de tais profissionais; às reivindicações das forças de segurança e de defesa; à instabilidade governativa e muito, muito, mais, temos que juntar ainda uma verdadeira e problemática crise instalada num dos braços (Ministério Público) do sistema judicial. Não foi, seguramente, para isto que Abril chegou. O sonho de Abril era outro. O País atual não honra Abril.

É preciso, rapidamente, voltar a cumprir Abril. Essa é uma tarefa que a todos compete e não apenas a quem temporariamente ocupa determinados cargos. Abril não tem nós e os outros. Abril não tem donos. Abril é de todos os que o querem. Abril é igualdade. Abril é fraternidade. Abril é solidariedade. Abril é amor. Esperemos que os discursos bonitos que serão proferidos, daqui a poucos dias, pelas mais altas figuras do Estado não sejam meras palavras soltas em papeis já gastos. É preciso muito mais do que isso. É preciso ter coragem para dar um murro na mesa. É preciso mudar. É precisa falar claro. É preciso dizer, alto e bom som, que a liberdade e a democracia não são bens adquiridos eternamente. É preciso respeitar o Povo. É preciso, em síntese, colocar Abril no topo das prioridades. Cumprir Abril não é, não pode ser, assinalar a data a cada ano que passa. Cumprir abril não é repetir alertas ano após ano. Isso é ir matando o espírito de Abril. E Abril não pode morrer. 25 de Abril, sempre!

PUB