O parlamento dos Açores aprovou hoje por unanimidade um voto de pesar pela morte do cidadão cabo-verdiano que foi agredido em março, no exterior de uma discoteca na cidade da Horta, na ilha do Faial.

No texto do voto de pesar, apresentado pelo deputado único do BE, António Lima, refere-se que o cidadão Ademir Araújo Moreno, que nasceu em 1974, na Cidade da Praia, em Cabo Verde, era calceteiro de profissão e estava a trabalhar na cidade da Horta.

O cidadão cabo-verdiano morreu no dia 19 de março, no hospital da Horta, dois dias depois de ter sido “agredido violentamente com um soco que o deixou inanimado”.

O suspeito da agressão, indiciado do crime de homicídio qualificado, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) e encontra-se em prisão preventiva, a aguardar o desenrolar do processo.

O deputado do BE António Lima lembra no texto que após o “chocante acontecimento”, no dia 19 de março, realizou-se uma vigília de homenagem à vítima e os organizadores “consideraram a morte de Ademir Araújo Moreno um lembrete doloso aos desafios persistentes […] em relação ao racismo e à xenofobia nos Açores”.

A Associação dos Imigrantes dos Açores também condenou a “brutal agressão” e repudiou “atos de violência verbal e física contra qualquer ser humano, independentemente de se tratar de um imigrante ou autóctone”.

Segundo o BE, “o racismo mata” e Ademir Araújo Moreno, de 49 anos, “é um triste acrescento à lista de vítimas mortais do ódio racial em Portugal”.

“Perante este crime, impõe-se a exigência de justiça, de forma célere e rigorosa”, lê-se no documento hoje aprovado por unanimidade no parlamento açoriano.

Por parte do PS, o deputado Lúcio Rodrigues lamentou o que se passou: “Fazemos votos de que a justiça faça o seu caminho, faça o seu papel e que sejam apuradas as responsabilidades”, disse.

Pelo PSD falou Salomé Matos, tendo referido que o grupo parlamentar social-democrata lamenta o ocorrido “com profunda consternação” e “repudia qualquer forma de violência ou de discriminação”.

Já Pedro Pinto (CDS-PP) disse esperar que as autoridades “façam o seu trabalho com seriedade e sejam apuradas as circunstâncias e as causas” do incidente e, “havendo lugar a penalizações, que elas sejam feitas de um modo exemplar”.

“Este incidente […] não reflete o nosso modo de acolher os cidadãos estrangeiros na nossa comunidade”, observou.

O líder parlamentar do Chega, José Pacheco, lamentou o incidente, mas também o facto de em Portugal existir “um sistema de justiça que não saiba penalizar fortemente quem retira a vida a outra pessoa”.

“Nos Açores este é um caso muito isolado, porque aqui sabemos receber, integrar e não diferenciar”, garantiu.

O suspeito da morte de Ademir Araújo Moreno foi detido pela PJ, que em comunicado explicou que “o crime terá ocorrido no contexto de uma violenta discussão, envolvendo várias pessoas, no desenvolvimento da qual o agora detido, funcionário daquele estabelecimento, terá agredido a soco a vítima, deixando-a inconsciente”.

O alegado agressor, de 23 anos, é também acusado de ter abandonado o local do crime, sem prestar apoio à vítima, situação que poderá agravar a moldura penal em que incorre, indicou a mesma fonte.

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