O Livre tem como meta, nas legislativas açorianas, conseguir pelo menos um assento no parlamento regional, onde só viabilizará uma solução de esquerda, segundo o professor universitário José Azevedo, de novo cabeça de lista pela ilha de São Miguel.
Em entrevista à agência Lusa, José Azevedo, de 61 anos, defende como prioridade e um “dever de cidadania” colocar no parlamento regional “a declaração de um estado de emergência climática e ecológica”, uma vez que o partido “está muito preocupado com os sinais que chegam do mundo científico”.
O candidato – que também se apresenta pelo círculo da compensação – sublinha que as “profundas alterações do clima vão ter uma grande implicação” direta e indiretamente no arquipélago: “As instabilidades que vão ocorrer a nível planetário vão afetar-nos. Estamos aqui isolados e muito dependentes do exterior.”
“Esse é um debate que é preciso ter na sociedade e, portanto, vamos pô-lo em cima da mesa, pretendendo-se associar à declaração do estado de emergência um conjunto de medidas que devem ser tomadas”, afirma.
O biólogo, que leciona na universidade da região e é doutorado em Ecologia Animal, diz que o partido pretende, por exemplo, “ligar a declaração de um estado de emergência climática e ecológica à formação de uma assembleia de cidadãos”.
Trata-se de um mecanismo “para consultar diretamente as pessoas, que não é um referendo” e com o qual se pretende institucionalizar uma “democracia deliberativa”.
À democracia junta-se, no manifesto eleitoral, a economia, já que o seu lugar é “lado a lado, devendo a primeira ser expandida para a segunda”.
Outros pilares do projeto da candidatura são o ambiente e a área social, com atenção à habitação e à educação.
José Azevedo identifica “graves problemas no setor primário, na agricultura e nas pescas sobretudo”, porque o modelo económico está “virado para a exportação, o que tem um impacto enorme nos terrenos, na erosão, na perda da biodiversidade”.
A meta em 04 de fevereiro é “ter pelo menos uma voz no parlamento regional” e isso, acredita, “estará ao alcance do partido, porque foi alterada um pouco a estratégia” – desta vez, apresenta listas por todas as ilhas.
Azevedo está convicto de que assim será possível “captar os votos de todos os círculos eleitorais por parte das pessoas que queiram votar no Livre, o que, além do reflexo em cada uma das ilhas, se espera que reverta para o círculo de compensação, onde se está a apostar muito” (na compensação são aproveitados os votos não contabilizados para eleger deputados nos círculos de ilha).
O candidato deixa claro que o Livre “viabilizará, da forma que lhe for possível, todos os partidos e coligações de esquerda, e será oposição a todos os partidos e coligações de direita”.
O partido “não se revê naquilo que agora é moda de se dizer que não há esquerda ou direita”.
“Vendo-se as declarações de um lado e do outro, percebe-se claramente que as preocupações sociais, ecológicas e outras que vão alterar a forma como a vida em sociedade está organizada vêm da esquerda, onde o Livre está”, refere.
José Manuel Viegas de Oliveira Neto Azevedo nasceu em Nampula, em Moçambique, e reside no concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. É militante desde 2014.
Em 2020, nas anteriores legislativas regionais dos Açores, o Livre registou 0,36% dos votos (362), segundo os resultados oficiais.
O PS foi o partido mais votado, sem maioria absoluta. Foram o PSD, o CDS-PP e o PPM a formar governo, com entendimentos de incidência parlamentar com o Chega e a Iniciativa Liberal.
Os 57 lugares da Assembleia Legislativa dos Açores vão ser disputados em eleições antecipadas motivadas pela dissolução do parlamento do arquipélago, na sequência do chumbo, em novembro passado, do Plano e Orçamento para este ano.