A vontade de ocupar o espaço mediático tem destas coisas. Sobretudo quando está acompanhada da necessidade de mostrar um trabalho que não se fez e de disfarçar incapacidades evidentes. O CDS vai trabalhando para mostrar mais serviço que os seus parceiros de coligação. A pressa aumenta quando olham para as possíveis coligações na Madeira, nos Açores ou no Parlamento Europeu como boias de salvação.

Vem isto a propósito da proposta apresentada pela vice-presidência do governo regional, sobre a idade da reforma dos Açorianos. Como estas coisas são demasiado importantes, vou deixar já a minha opinião: a reforma justa e sem cortes na pensão é aos 40 anos de trabalho, independentemente da idade. Nem mais um dia. Isso mesmo tem sido defendido pelo PCP, por diversas vezes – propostas chumbadas sempre pelo PS e pela direita. Salvaguarda-se, naturalmente, a antecipação da aposentação, sem penalizações, para as profissões de elevado desgaste.

Não faz qualquer sentido que a reforma exija carreiras contributivas mais longas para quem começou mais cedo! Um exemplo concreto: quem começar a trabalhar aos 18 anos de idade terá de trabalhar 46 anos para se reformar, mas se tivesse começado aos 26 anos trabalharia apenas 40 anos para ter exatamente a mesma reforma. É evidente que a sua saúde ir-se-á ressentir trabalhando mais tempo. Inclusivamente reduzindo a sua qualidade de vida e, até, a sua esperança de vida!

Associar a idade da reforma à esperança média de vida é anular, da forma mais desumana possível, um avanço conseguido à custa do desenvolvimento da medicina – portanto, uma conquista social e civilizacional. Efetivamente, é preciso muita falta de humanismo para se concluir que, como vivemos mais tempo, temos de trabalhar mais tempo. Ficam, assim, anulados a qualidade e o tempo de vida que conquistámos no último século!

Quanto ao discurso do antigo ministro, mostrou bem a sua falta de coerência e de seriedade: no governo da república, recusou beneficiar profissões de rápido desgaste – portanto, associadas a menor esperança de vida. Mais grave que isso, colocou em causa a Segurança Social, estimulando negócios especulativos nos quais se perderam milhares de milhões de euros de dinheiro dos trabalhadores.

Se a esperança média de vida nos Açores é inferior à nacional, é dever do governo regional trabalhar para o corrigir. A menor esperança média de vida é o resultado da pobreza. O governo regional, em particular a vice-presidência, está, assim, a demonstrar a sua incapacidade política (até mesmo a sua falta de vontade!) para aumentar a esperança média de vida, resolver o problema da pobreza estrutural e para dar melhor qualidade de vida aos Açorianos! É curioso ver que o governo regional nunca se preocupa em trabalhar para aumentar os salários dos Açorianos, que sabe serem a principal causa da pobreza, não vá isso reduzir os lucros das grandes empresas…

Nos 50 anos da Revolução de Abril, devemos recordar que foi com as suas conquistas que se iniciou o aumento significativo da esperança média de vida, bem como da qualidade de vida. Entre outros avanços civilizacionais, Abril trouxe-nos uma mais justa repartição da riqueza, melhores cuidados de saúde e maior qualidade da habitação. Foi com o governo do PS de José Sócrates que se iniciou a inversão desta evolução positiva, quando se passou a associar a idade da reforma à esperança média de vida, como se devêssemos ser penalizados pelos avanços da ciência e da humanidade! Com o acordo do PSD e do CDS, diga-se de passagem, como fica bem demonstrado pelo governo de Passos Coelho e pela ação do governo regional. Quanto à sustentabilidade da Segurança Social, que serviu de argumento para associar a idade da reforma à esperança de vida, nunca é referida quando se trata de arriscar o dinheiro em negócios arriscados e especulativos, que muito lucro dão à alta finança mundial… Ou seja, é pela mão do PS e da direita que se vão fechando as Portas que Abril abriu!

É por todas estas razões que o PCP não desistirá da sua proposta. Tal como não desistirá das 35h de trabalho para todos. A reforma justa, sem penalizações, é aos 40 anos de trabalho. Nem mais um dia! É que, bem vistas as coisas, o tempo e a saúde são os nossos bens mais preciosos!

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