Rui Teixeira, dirigente do PCP Açores

Abril é Revolução. Sei que é frequente ouvirmos alguém a reduzir as enormes transformações de Abril ao golpe militar do Movimento das Forças Armadas, a esquecer os milhares de ações de luta contra a ditadura, ou a ignorar – alguns conhecendo, mas fingindo que ignoram – o muito que exigiu do Povo a defesa das conquistas de Abril.

Durante os 48 anos de fascismo, sendo conhecidos os riscos de prisão, tortura ou morte, estas ações de luta exigiam coragem. Na própria manhã de 25 de Abril, foi enorme a corrente humana que apoiou o Movimento dos Capitães e que exigiu aquilo que sempre lhe foi negado. Este apoio foi uma presença constante nas ruas, nos dias que se seguiram. As manifestações do Dia do Trabalhador desse ano foram impressionantes. Milhões de pessoas mostraram que não deixariam voltar a um passado de miséria e exploração, violência e censura. Exigiram salários justos, direitos no trabalho, Democracia, Liberdade, o fim da guerra.

Outra afirmação frequente é que Abril não tem donos. Esta ideia provoca a confusão com outra ideia, essa sim, plenamente correta: Abril foi para todos, e não para apenas alguns. Isso é verdade, mas não permite que se esqueça que houve quem, na clandestinidade ou na semiclandestinidade, durante 48 anos, tenha trabalhado para construir a Revolução.

Inclusive, há que recordar que houve quem tenha convivido muito bem com o regime fascista e quem hoje procure reavivar o ódio, a violência, o racismo, a perseguição de alguns grupos minoritários. Começa sempre pela perseguição de alguns, mas acaba sempre com a repressão da maioria. Destes, é caraterístico procurarem esconder as suas intenções, colocando um “cravo vermelho ao peito”, como cantou José Barata-Moura: “Vestiram uma pele de povo | Ficou-lhes o rabo de fora”. Estas palavras têm quase meio século, mas podiam ter sido cantadas agora.

De todos os grupos sociais, aquele que mais arriscou e enfrentou o fascismo foi o dos trabalhadores – sem que me esteja a esquecer de outros, também importantes. Isso não é por acaso. A natureza do fascismo é a exploração brutal, extrema, dos trabalhadores, para favorecer um grupo de privilegiados do regime, acelerando a acumulação da riqueza à custa da miséria da maioria. É por isso que quando, durante a Revolução de Abril, se instituiu o salário mínimo, a maioria dos salários duplicou ou mesmo triplicou, de tão baixos que eram. É por isso que a maioria dos presos, torturados e assassinados foram trabalhadores: foram os primeiros a protestar, precisamente porque eram os primeiros a sofrer com o regime. Exigiam dinheiro para comer, tempo para viver, salários justos.

Por tudo isto, nos 48 anos de ditadura, o Dia do Trabalhador foi sempre violentamente reprimido. Também nos Açores houve algumas ações no 1.º de Maio. Talvez a mais histórica tenha ocorrido na década de 40, em Angra do Heroísmo, quando 3 militantes comunistas afirmaram a sua oposição à ditadura, içando a bandeira do PCP – que, como se sabe, estava proibido e atuava na clandestinidade. Em 1974, ainda antes da ação do Movimento das Forças Armadas, a CGTP preparava uma manifestação no 1.º de Maio, longe de imaginar que a iria fazer em Liberdade. Veio-se a saber, mais tarde, que a PIDE preparava também a prisão dos dirigentes sindicais, para evitar essas manifestações. Como se sabe, não foi a tempo, porque, entretanto, os Capitães abriram as portas ao Futuro…

O Dia do Trabalhador é, assim, um dia de luta pela Democracia e pela Liberdade, por melhores condições de vida e de trabalho. Este ano não será exceção. Nas ilhas onde estão as sedes das três uniões sindicais da CGTP-IN/Açores, São Miguel, Terceira e Horta, irão ocorrer comemorações do 1.º de Maio. Na Horta, no Parque da Alagoa, em Angra, na Praça Velha e em Ponta Delgada, no Pinhal da Paz, lá estará, mais uma vez, o movimento sindical a defender as conquistas de Abril, combatendo o emprego incerto, exigindo mais salários e direitos para quem trabalha, afirmando que a melhor forma de defender a Democracia é exercendo-a. E aqui fica, mais uma vez, o desafio para todos os que puderem: juntem-se a esta Festa, exigindo uma vida melhor! É do nosso futuro que se trata!

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