A poucas horas do início do conclave que irá definir quem será o próximo Sumo Pontífice, o mundo suspende a respiração para concentrar atenções em Roma. A escolha do novo Papa é um momento singular no panorama internacional. Trata-se de um gesto político, com implicações para todos os países. Quando o fumo branco sobe perante uma Praça de São Pedro sempre repleta, anuncia-se muito mais do que um novo pontífice: escolhe-se, de algum modo, um dos principais rostos morais do mundo contemporâneo.
Atualmente, num mundo marcado pela erosão das democracias tal como as conhecemos, pela fragmentação de parlamentos e pelo crescimento do ruído que caracteriza os populistas, a figura papal ganha contornos paradoxais: não tem grandes poderes, não tem exército, quase não tem território, mas o chefe da Igreja Católica continua a ser um dos poucos líderes mundiais que, sempre que fala, é escutado por milhões de pessoas.
O legado de Francisco é difícil de ignorar, pela proximidade, pela energia, pela relação com as pessoas. Será, acima de tudo, difícil de repetir. O papado de Francisco foi profundamente político e simbólico, focado nos pobres, nos migrantes, na capacidade de diálogo e construção de pontes, mesmo entre religiões.
O próximo Papa será escolhido por um colégio de cardeais maioritariamente nomeado por Francisco. Isso aumenta, na minha perspetiva, a probabilidade de continuar o seu legado, mas não garante absolutamente nada. Nos bastidores, movimentam-se os defensores de uma viragem, assim como outros procuram manter o rumo atual da Igreja. É um debate que se repete há décadas, mas que agora ganha novos contornos com o cenário geopolítico internacional.
Esta será, portanto, não apenas uma escolha espiritual, mas profundamente política. O mundo no qual o novo Papa irá entrar está em guerra, está dividido entre democracias fatigadas e autoritarismos em ascensão. Está, sobretudo, muito carente de referências morais.
Perante o cenário político internacional, o papel do Papa ganha um novo fulgor, mesmo para os não crentes. A figura papal, a sua capacidade de mobilizar sem impor, de influenciar sem obrigar, de servir de esperança onde outros já não acreditam nela, pode ser determinante para o mundo contemporâneo.
Atualmente, a política tem excesso de lideranças vazias, onde se diz tudo e onde aquilo que é dito tem pouco significado. Há coisas que as sondagens e os likes não decidem, nem sequer influenciam, e a eleição do novo Papa é um desses casos.
Que o sinal trazido pelo fumo branco seja de coragem, esperança e compaixão. O mundo olhará para Roma, não em busca de milagres, mas sobretudo à procura de um sentido e de orientação moral, porque, sim, ainda é possível acreditar num mundo melhor e não pensar apenas no imediato.