A ex-administradora da TAP Alexandra Reis disse hoje que a presidente executiva da companhia aérea lhe pediu para sair da empresa “numa reunião muito curta”, tendo-lhe sido pedida confidencialidade e transmitido que o Governo estava de acordo
Alexandra Reis está esta tarde a ser ouvida na comissão de inquérito à TAP e, no arranque das inquirições pelo deputado da IL Bernardo Blanco, assumiu que ainda não compreende “de forma muito clara” as razões do pedido para que “saísse da empresa”.
Segundo a antiga administradora, em 25 de janeiro do ano passado, “numa reunião muito curta”, a CEO (presidente executiva) da TAP, Christine Ourmières-Widener, explicou-lhe que queria distribuir os seus pelouros por outros membros da comissão executiva e por isso lhe perguntou o que ficaria a fazer sem essas mesmas responsabilidades.
“Eu quero que saias da empresa”, foi o que, segundo Alexandra Reis, a presidente executiva da TAP lhe disse, tendo deixado claro que queria que saísse não só de administração, mas da empresa e que lhe pediu “confidencialidade sobre o assunto” numa conversa que foi presencial.
A antiga governante disse não estar a par sobre quem do Governo sabia desta decisão, relatando que perguntou a Christine Ourmières-Widener se o Governo estava “ok” com esta decisão e que a resposta que obteve foi “claro” que estava.
Alexandra Reis assume que indemnização inicial proposta era muito expressiva
A antiga administradora da TAP Alexandra Reis assumiu hoje que o valor da indemnização proposta inicialmente para sair da empresa era “muito expressivo”, mas sublinhou que as responsabilidades também o eram
A antiga administradora da TAP Alexandra Reis assumiu hoje que o valor da indemnização proposta inicialmente para sair da empresa era “muito expressivo”, mas sublinhou que as responsabilidades também o eram, referindo que “não houve justa causa”.
Na audição que decorre esta tarde na comissão de inquérito à TAP, Alexandra Reis foi questionada pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre se não considerava desajustado o valor da indemnização que pediu inicialmente para sair da empresa, que foi de 1,4 milhões de euros.
“Era um valor elevado, sem sombra de dúvida, é um valor significativo, mas também o eram e são as responsabilidades de um administrador, que são muito elevadas, no caso de uma companhia aérea”, começou por responder, referindo que no caso de queda de um avião a responsabilidade “pode ser imputada pessoalmente a cada um dos administradores da empresa”.
Entendendo que “era de facto um valor muito expressivo”, a antiga administradora referiu que “era um valor para discussão” e que aceitou uma “contraproposta com valor muito mais baixo” ou seja 500 mil euros, assumindo que ainda assim também “é um valor expressivo comparado com média nacional”, mas que as “responsabilidades que estavam inerentes ao cargo eram também elevadas”.
“Não estou a fazer juízo de valor sobre legalidade dos 500 mil euros, o que digo é que quando foram propostos e aceitei. Nem por um instante pensei que alguma vez pudesse haver alguma duvida sobre aquele valor”, enfatizou.
Anteriormente, no período de inquirição do deputado do PCP Bruno Dias, Alexandra Reis explicou que a primeira proposta de indemnização que pediu depois de lhe terem pedido para sair da empresa “tinha um racional”, ou seja, “as mesmas condições que foram propostas a todos os colaboradores em duas vertentes no contrato de trabalho e a mesma fórmula de cálculo para o mandato”.
“Eu estava a ser indemnizada por terminar um contrato de trabalho e por terminar um mandato. E estava a ser indemnizada para terminar um mandato sem que houvesse uma razão objetiva para que isso acontecesse. Não houve justa causa, nada me pode ser apontado na minha atuação na empresa, muito pelo contrário”, respondeu.
Alexandra Reis protagoniza a polémica que estalou no Natal, quando era secretária de Estado de Tesouro e o Correio da Manhã noticiou que tinha recebido uma indemnização de meio milhão de euros para sair da TAP, onde era administradora, dois anos antes do previsto.
Depois de deixar a companhia aérea, em fevereiro de 2022, a ex-governante assumiu a presidência do Conselho de Administração da NAV Portugal — Navegação Aérea, antes de ser nomeada pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, para secretária de Estado.
De acordo com a presidente executiva da companhia aérea, Christine Oumières-Widener, que foi ouvida na comissão de inquérito na terça-feira, a iniciativa para a saída de Alexandra Reis partiu da TAP, por desalinhamento de opiniões para a execução do plano de reestruturação da empresa.
Na sequência das conclusões da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças (IGF), o Governo ordenou a restituição de grande parte do valor da indemnização, que Alexandra Reis disse devolver por vontade própria, embora discorde do entendimento da IGF, de que houve falhas graves no processo.