A Associação Seniores de São Miguel (ASSM) promoveu, na passada segunda-feira, um debate-reflexão sob o tema “Pensar a Cidade”, que reuniu várias personalidades locais para discutir os desafios urbanos atuais de Ponta Delgada.
O evento contou com a participação do Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, do Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Gualter Couto, do arquiteto Jorge Kol de Carvalho, do psiquiatra João Mendes Coelho, especialista em dependências, e de Alexandra de Bragança, Presidente da Comissão Especializada de Acompanhamento do PRR do Conselho Económico e Social dos Açores. A moderação ficou a cargo da jornalista Teresa Nóbrega.
Entre os presentes na assistência destacaram-se ainda intervenções de Sónia Nicolau, candidata à Câmara Municipal de Ponta Delgada, Gualter Furtado, economista e ex-presidente do Conselho Económico e Social dos Açores, Avelino Meneses, ex-secretário regional e ex-reitor da Universidade dos Açores, e Jorge Rita, presidente da Associação Agrícola de São Miguel, entre outros.
Um dos temas mais discutidos foi a crise na habitação, que se tem tornado num problema central da cidade. Foram apontadas como principais causas a pressão do turismo, que tem levado muitos proprietários a optarem pelo alojamento local em detrimento do arrendamento de longa duração, a escassez de construção nova a preços acessíveis e os salários baixos da população açoriana, que dificultam ainda mais o acesso à habitação.
A conjugação destes fatores está a expulsar jovens e famílias do centro da cidade para freguesias periféricas. De acordo com Alexandra de Bragança, ligada à AICOPA, o investimento total realizado e previsto para habitação nas freguesias do concelho de Ponta Delgada, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), já ultrapassa os 9,5 milhões de euros, incluindo obras concluídas, em execução e a lançar. O PRR previa inicialmente 40 milhões de euros para habitação nos Açores, verba que foi aumentada para 60 milhões e mais tarde reduzida, devido à falta de capacidade construtiva, especialmente de mão-de-obra.
A solução apontada por vários participantes passa pelo incentivo à construção de habitação a custos controlados, por uma regulação mais rigorosa do alojamento local e por medidas de apoio ao arrendamento de longa duração. Outro tema em destaque foi a mobilidade urbana. A cidade de Ponta Delgada enfrenta crescentes dificuldades relacionadas com o aumento do parque automóvel, resultado da falta de transportes públicos eficazes, da fraca cobertura do transporte intermunicipal e de uma cultura enraizada de dependência do automóvel particular. Como consequência, registam-se congestionamentos, sobretudo nas horas de ponta, escassez de estacionamento e um agravamento da poluição e da pegada ambiental. Pedro Nascimento Cabral destacou a proximidade do arranque do prolongamento do parque de estacionamento subterrâneo da Avenida Marginal, enquanto o arquiteto Jorge Kol de Carvalho defendeu a criação de dois terminais rodoviários nos extremos leste e oeste da cidade.
Um dos momentos mais marcantes do debate surgiu com a intervenção do psiquiatra João Mendes Coelho, que afirmou que “ao sair do seu consultório tem a sensação de estar numa cidade doente”, perante o número crescente de sem-abrigo, alcoólicos e toxicodependentes. A insegurança nas ruas, agravada pelo consumo de álcool e drogas na via pública, foi reconhecida como um problema grave. Sónia Nicolau defendeu a instalação de sistemas de videovigilância como forma de atenuar o sentimento de insegurança entre a população, enquanto Pedro Nascimento Cabral defendeu a criminalização do consumo de álcool e drogas na via pública.
No encerramento da sessão, Gualter Couto criticou os deputados regionais eleitos por São Miguel, afirmando que não têm defendido adequadamente os interesses da ilha. A posição foi apoiada por várias pessoas presentes na sessão, num tom que refletiu a urgência em encontrar soluções concretas para os desafios que afetam Ponta Delgada e toda a ilha.