As notícias recentes em torno do BES e do julgamento de Ricardo Salgado não têm recordado diversos factos antigos, mas muito relevantes. Na semana passada, já recordei alguns, como as facilidades e benesses que recebem estes grandes grupos privados e as inúmeras falhas na fiscalização.
Outro facto importante é que, nos dias anteriores ao colapso do BES, várias figuras de Estado garantiam a sua solidez e que o dinheiro estava seguro. Destaco o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, vários membros do governo do PSD/CDS, de Passos Coelho, e o presidente da república, Cavaco Silva. Durante esses dias, as grandes fortunas guardadas no BES foram desviadas para local seguro, o que deu maior dimensão ao desastre – processo no qual o governo de Passos Coelho tem enormes responsabilidades políticas. Por isso mesmo, é útil recordar que esse governo é uma referência política e económica do liberalismo e do chega, cujo líder, na altura, militava no PSD, apoiava o primeiro ministro Passos Coelho e estava em silêncio com este caso gritante de corrupção.
Outro facto relevante é que a comissão parlamentar de inquérito, proposta em 2014 pelo PCP, demonstrou a relação entre as privatizações, a corrupção, o poder dos grupos económicos e a política de direita. Apesar disso, o deputado do PCP na comissão de inquérito, Miguel Tiago, foi o único que denunciou a existência de um sistema político e económico construído para favorecer o enriquecimento ilícito e a especulação. Os restantes deputados consideraram que as responsabilidades eram, apenas, individuais. E este é que é o aspeto essencial que vale a pena recordar: é que a comissão de inquérito demonstrou mesmo que o problema principal está na promiscuidade entre o poder destes grandes grupos económicos e o poder político, sendo sistémico e estrutural.
Estranhamente, ou talvez não, o PS, a direita e a extrema direita permanecem em silêncio absoluto sobre este problema gravíssimo, que provoca crises cíclicas cada vez mais frequentes e violentas. Por isso, e até o resolvermos, mais tarde ou mais cedo, vão-se repetir os acontecimentos de um passado que ainda estamos a pagar, mas com maior dimensão e gravidade!