A época de touradas à corda na ilha Terceira, nos Açores, arranca na segunda-feira e são esperadas mais de 200 manifestações taurinas até 15 de outubro, ainda que os ganadeiros receiem uma quebra de receitas devido à inflação.

“Espera-se uma época com um número igualmente elevado de espetáculos como 2022. A nível de receita, não se adivinham bons tempos”, adiantou, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda, Sónia Ferreira.

As touradas à corda, realizadas em várias ilhas dos Açores, mas com maior expressão na ilha Terceira, são, na sua maioria, integradas em festas populares, organizadas por comissões de voluntários.

Os touros correm nas ruas, amarrados por uma corda, que é controlada por ‘pastores’, e as pessoas assistem em casas, muros ou na própria estrada, sem pagar bilhete, enquanto os ‘capinhas’, de forma gratuita, vão “brincando” com o touro, mas sem bandarilhas ou muletas, como na praça.

Depois de dois anos de interregno, devido à pandemia de covid-19, em 2022 a manifestação taurina regressou aos números habituais, com mais de 200 touradas à corda.

“Houve uma afirmação da população de que não queria deixar que a tourada à corda sofresse qualquer dano”, frisou a presidente da associação.

Sónia Ferreira acredita que esse número voltará a ser superado em 2023, mas lembra que todas as crises económicas têm reflexos nas receitas dos ganadeiros, porque é a população de cada freguesia que contribui para o orçamento da festa.

Este ano, com a inflação, os ganadeiros viram aumentar as despesas com o maneio do gado bravo, em gasóleo, rações ou adubos, mas a redução do poder de compra da população impede-os de aumentar os preços das touradas.

“Precisava-se que os preços das touradas à corda refletissem o aumento dos custos. Precisávamos de alugar a preços superiores do que anteriormente e isso não se verifica de maneira nenhuma. Com a inflação estamos ainda a alugar a preços pré-pandemia”, explicou.

A Associação Regional de Criadores de Toiros de Tourada à Corda integra atualmente 18 ganadarias, 12 na Terceira, três em São Jorge e três na Graciosa.

Sónia Ferreira pertence à quarta geração da ganadaria Casa Agrícola José Albino Fernandes e mantêm-se nesta atividade para dar continuidade a um “legado histórico”, mas há novas ganadarias a aparecer.

“É um caso interessante de estudo. Como é que uma atividade económica, que não é rentável, consegue ter tantas pessoas interessadas em realizá-la e serem ganadeiros? Não é uma atividade rentável, nunca foi, terá de ser por algo mais. Cada pessoa, que inicia a ganadaria, há de ter razões distintas. Há muito gosto, muita paixão”, frisou.

“Todos os anos não se sabe como vai ser a época, quantas touradas se vai realizar, quantos animais vão ser alugados. Esta imprevisibilidade e este investimento que é feito, sem saber de antemão qual vai ser o retorno, é um elevado risco e a pessoa tem de ter uma certa loucura, entre aspas, para querer estar neste negócio”, acrescentou.

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