O candidato do PS a presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, afirma que não se candidata para qualquer ajuste de contas com 2020, quando os socialistas ganharam as regionais, mas não formaram governo.

“Não me candidato para qualquer ajuste de contas com 2020. Não é essa a razão da minha candidatura, a minha candidatura é por causa do futuro dos Açores”, disse, em entrevista à agência Lusa, o cabeça de lista pelos círculos de São Miguel e de compensação no sufrágio antecipado de 04 de fevereiro.

O também líder do PS/Açores, que entre 2012 e 2020 foi presidente do executivo regional, declarou que o objetivo é “vencer as eleições e ter condições para recuperar” a região da “degradação de um conjunto de indicadores que condicionam” o seu futuro.

Sobre a eventualidade de o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta e a possibilidade de encetar negociações para formar governo com outros partidos, Vasco Cordeiro assegurou: “Estamos disponíveis para dialogar com todos os partidos políticos democráticos, autonomistas, obviamente que queiram dialogar connosco e que sejam essenciais para garantir uma estabilidade governativa que interessa à região.”

“Significa que, com o atual estado de coisas e se não houver surpresas, o que me parece é que um partido que está fora destas características é o Chega”, salientou o deputado regional.

Questionado sobre como encara o facto de a coligação pós-eleitoral (PSD/CDS-PP/PPM) que governa os Açores responsabilizar o PS pela queda do executivo, devido ao chumbo do Orçamento, Vasco Cordeiro considerou que “o principal foco de instabilidade” não estava na oposição, mas no próprio executivo, na coligação e na aliança (com Chega e IL) que se “formou para afastar o PS do Governo”.

“O que acontece em outubro, novembro de 2023, não acontece isoladamente. […] Foi a consequência de um conjunto de casos, de casinhos, de guerrinhas, de guerrilhas”, lembrou, assinalando, a este propósito que nestas eleições “os protagonistas são os mesmos, a solução até está mais aprofundada”, dado que PSD, CDS-PP e PPM têm uma coligação pré-eleitoral.

Nesse sentido, no seu entender, o problema mantém-se, mas “agravado, porque agora o que diz o Chega é que só apoiará um governo da coligação se for para o governo”.

Vasco Ilídio Alves Cordeiro, com 50 anos, é natural do concelho de Ponta Delgada, no qual reside. Licenciado em Direito, é advogado e, desde 1994, militante do PS. Além de cargos autárquicos, foi secretário regional com diferentes pastas e assumiu funções em órgãos europeus, presidindo atualmente ao Comité das Regiões.

A possibilidade de ocupar o lugar de deputado caso o PS perca as eleições é uma questão de que prefere não falar, pelo menos por agora: “Neste momento, os indicadores que tenho permitem-me dispensar a resposta a essa pergunta”.

Numa análise à situação do arquipélago, Vasco Cordeiro destacou indicadores sociais como a taxa de risco de pobreza, que está a agravar-se, e notou que foi com os governos do PS que “os Açores deixaram de ser a região mais pobre do país”. Com o atual executivo insular, disse, a região “voltou a esse triste pódio”.

Indicando, entre outros aspetos, o abandono escolar precoce, o cabeça de lista realçou ainda a degradação da situação financeira da região, que “se tem agravado, de forma muito considerável”, para sublinhar que “em dois anos e alguns meses” a dívida pública cresceu mais de 700 milhões de euros.

Por outro lado, apontou o “afunilamento que está a acontecer em termos de atividade económica”, mesmo nos setores tradicionais, como a agricultura ou as pescas.

“A agricultura tem um problema de preço do leite à produção. A opção estratégica do Governo [Regional] foi pagar aos produtores para não produzirem, mas o facto é que não só os produtores estão a produzir menos, como agora essa estratégia falhou e estão a receber menos”, declarou.

Já no setor do turismo, avisou que “o efeito conjugado da diminuição da operação da Ryanair, da privatização da Azores Airlines, da privatização da TAP exige um cuidado acrescido”, mas acusou o executivo de olhar para os números e “não para as condições de sustentabilidade futura deste setor”.

“Há, no fundo, um conjunto de circunstâncias que podem resumir-se a esta ideia de que os Açores estão a ficar para trás em aspetos importantes para o nosso desenvolvimento e para a nossa vida coletiva”, continuou.

Sobre o programa eleitoral do PS, o socialista realçou “três áreas em que se torna necessário intervir”, como “agilizar as condições” em que a economia pode “aproveitar a grande oportunidade que os Açores têm” relativamente ao financiamento de fundos comunitários.

“Passámos de uma situação em que, por exemplo, no Programa Operacional Açores 2020, comparado com outros programas operacionais, éramos a região que em 2020 melhor usava os fundos comunitários para uma região que está em último ou penúltimo lugar agora”, referiu, notando que no Plano de Recuperação e Resiliência o arquipélago vai pelo mesmo caminho.

Neste âmbito, defendeu ser necessário “simplificar, desburocratizar e agilizar” o aproveitamento de fundos comunitários.

Além das áreas sociais, como a educação ou a saúde, Vasco Cordeiro apontou as finanças públicas como uma prioridade.

“A questão das finanças públicas não é um fetiche. As finanças públicas, para mim, são condição para o exercício da autonomia. […]. Ter finanças públicas que nos permitam pagar aquilo que os Açores decidem, em qualquer circunstância, qualquer que seja o governo, é uma condição do exercício da autonomia”, acrescentou.

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