Os resultados das eleições regionais nos Açores poderão ter mais reflexos à direita do que à esquerda nas eleições legislativas antecipadas, admitem politólogos contactados pela Lusa, salientando a proximidade temporal entre os dois atos eleitorais.
“Não vale a pena andar com leituras nacionais” das eleições nos Açores, defendeu António Costa Pinto. Este politólogo considerou, contudo, que “os resultados das regionais, e a estratégia sobretudo do PSD em relação ao Chega e do Chega em relação ao PSD, não deixarão de ter uma leitura nacional”.
Questionado pela agência Lusa sobre que impacto terão as eleições de 04 de fevereiro nos Açores nas legislativas de 10 de março, António Costa Pinto respondeu que os atos eleitorais regionais “têm uma autonomia significativa” e que “a contaminação nacional desses resultados também é pequena, historicamente”. Porém, dada a proximidade temporal entre as duas, “existirá seguramente alguma ativação política dos seus resultados e, sobretudo, das estratégias de acordos parlamentares para as eleições no continente”.
António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considerou que “à esquerda não há nada a jogar” nestas regionais.
Teresa Ruel, professora de Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, salientou a proximidade entre os dois atos eleitorais – separados por apenas cinco semanas – e considerou que quem vencer as regionais terá “um bónus”.
“Mas creio que aqui o foco está muito direcionado para esta coligação de direita, seja nos Açores, seja no continente, para ver qual é também o desempenho e resultado desta combinação de forças políticas e destas alianças”, salientou.
Teresa Ruel notou que nos últimos atos eleitorais, as regionais têm tido um maior “efeito de contágio” para a realidade nacional, salientando a existência de “ciclos eleitorais cada vez mais curtos”.
Também André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, realçou a proximidade de calendário entre os dois atos eleitorais, considerando natural que exista uma leitura nacional “mais forte” do que o habitual das eleições açorianas.
No que toca à direita, o politólogo considerou “vai ser muito importante ver qual vai ser a configuração” de uma eventual maioria nos Açores, “nomeadamente se haverá penalização de algum partido à direita pelas eleições antecipadas”.
“E também será importante verificar, havendo essa maioria à direita, se o PSD não conseguir governar com o CDS, qual o tipo de negociação e de entendimentos que resultam daí. Se voltarmos a ter alguma forma de acordo com o Chega, como aconteceu após as últimas eleições regionais nos Açores, creio que desta vez, e mais uma vez tendo em conta a proximidade das legislativas, também o impacto será maior”, sustentou.
Azevedo Alves sublinhou que, do ponto de vista formal, os partidos regionais têm autonomia, mas salientou que o presidente do PSD, Luís Montenegro, terá um “problema a resolver” se não houver maioria nos Açores e for necessário entendimentos com o Chega, depois de ter rejeitado repetidamente a nível nacional alianças com o partido liderado por André Ventura.
Já quanto à esquerda, diz apenas que seria “muito simpático” para Pedro Nuno Santos, recém-eleito secretário-geral do PS, estrear-se como líder nacional recuperando o governo regional dos Açores.
A proposta de orçamento dos Açores foi chumbada em 23 de novembro, na generalidade, com votos contra do PS, BE e IL e abstenções do Chega e do PAN, tendo recebido apenas votos favoráveis dos três partidos que integram o Governo Regional, PSD, CDS-PP e PPM, e do deputado independente Carlos Furtado, ex-Chega.
O executivo chefiado por José Manuel Bolieiro deixou de ter apoio parlamentar maioritário desde que um dos dois deputados eleitos pelo Chega se tornou independente e o deputado da Iniciativa Liberal rompeu com o acordo de incidência parlamentar, em março.
O Governo de coligação PSD/CDS-PP/PPM mantém um acordo de incidência parlamentar com o agora deputado único do Chega no parlamento açoriano.
Em 10 de março, realizam-se eleições legislativas antecipadas, depois da demissão do primeiro-ministro, António Costa, na sequência de uma investigação judicial na qual é visado. PSD e CDS já anunciaram uma coligação pré-eleitoral.