O eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral reafirmou esta semana que os conceitos de segurança e defesa vão muito além do setor militar, englobando também áreas fundamentais como o abastecimento alimentar e a autonomia energética. As declarações foram feitas durante a conferência “Agrisolar: Uma Nova Parceria entre Agricultores, Energia e Natureza”, coorganizada pelo eurodeputado em parceria com a SolarPower Europe.
Na sua intervenção, Paulo do Nascimento Cabral destacou que, segundo um estudo recente do Parlamento Europeu, os europeus priorizam três áreas-chave: defesa, autonomia energética e segurança alimentar. “Faz todo o sentido abordarmos estas prioridades, garantindo as sinergias necessárias para a sua concretização”, sublinhou.
O eurodeputado do PSD enalteceu ainda o papel de Portugal na transição energética, lembrando que o país atingiu, em 2024, um recorde de 80,4% de eletricidade proveniente de fontes renováveis — um crescimento de 10,8% face ao ano anterior. Destacou também que 86% da nova capacidade instalada resulta de energia solar fotovoltaica, que já representa 10,7% da produção total de eletricidade no país.
Apesar destes avanços, Paulo do Nascimento Cabral alertou para as limitações da atual rede elétrica em absorver toda a energia produzida, defendendo a descentralização da produção energética como resposta. “Quando juntamos a produção alimentar com a produção energética, conseguimos descentralizar e ter acesso mais facilitado a fontes de energia”, afirmou, apontando o modelo agrivoltaico — que combina agricultura com energia solar no mesmo espaço — como solução inovadora.
Segundo o eurodeputado, este modelo já está a ser testado em Portugal num projeto-piloto na produção de vinho, onde a sombra dos painéis solares pode aumentar a qualidade do produto e reduzir as necessidades hídricas. Cabral defendeu ainda que é essencial abandonar a visão de que agricultura e energia solar são concorrentes no uso do solo, salientando que os painéis solares podem ser instalados por cima ou entre as culturas, sem prejudicar a atividade agrícola.
Referindo-se a um relatório do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, o eurodeputado destacou que a cobertura de apenas 1% da superfície agrícola utilizada na União Europeia com sistemas agrivoltaicos poderia gerar 944 GW de energia solar, superando as metas previstas para 2030.
Cabral sublinhou também o potencial do agrivoltaico para revitalizar zonas rurais, criando oportunidades de investimento, reduzindo custos de produção e atraindo novas gerações para a agricultura. “Sabemos que a média de idades na agricultura é de 57 anos na Europa e 64 em Portugal. Precisamos de soluções inovadoras para atrair jovens para o setor”, afirmou.
No entanto, apontou entraves que ainda dificultam a massificação da tecnologia, como a ausência de uma definição jurídica harmonizada na União Europeia, dificuldades no acesso a subsídios da PAC e processos de licenciamento complexos.
Na reta final da sua intervenção, Paulo do Nascimento Cabral defendeu que os sistemas agrivoltaicos representam “um modelo inovador e com visão de futuro”, capaz de responder de forma integrada aos desafios da segurança alimentar, energética, climática e ao desenvolvimento das comunidades rurais. O eurodeputado sublinhou ainda que a tecnologia pode oferecer fontes alternativas de rendimento aos agricultores, referindo exemplos de rendimentos adicionais na ordem dos 2.000 euros por hectare.