Ainda mal se conhecem os contornos com que funcionará a comissão parlamentar sobre o incêndio no Hospital de Ponta Delgada e já se adivinha que os seus trabalhos dificilmente cumprirão, com objetividade e rigor, as finalidades anunciadas. Isso mesmo foi visível na própria constituição da comissão. Seria aconselhável que se tivesse procurado uma solução consensual, que permitisse que os trabalhos decorressem com normalidade. Ora, ainda nem se iniciaram os seus trabalhos e o que assistimos foi, precisamente, ao oposto.
Infelizmente, há mais de quatro anos que os trabalhos da Assembleia Regional são dominados por tristes espetáculos e pela pobreza da argumentação. Mas o maior problema é a desconsideração pela vida dos Açorianos. Aos órgãos de poder regional exige-se a procura de soluções eficazes e urgentes para as dificuldades do dia a dia: salários baixos, habitação, dinamização da produção regional, falta de professores, listas de espera na Saúde, entre muitos outras. Infelizmente, há demasiados anos que o poder político regional tem as suas prioridades invertidas.
Sobre a Comissão de Inquérito, há um aspeto incontornável, mas que, previsivelmente, será ignorado. O hospital privado, anterior Hospital Internacional e hoje CUF Açores, foi construído com avultados apoios públicos municipais e regionais. Essa verba faltou e continua a faltar ao Serviço Público de Saúde – a cada um dos Hospitais e Centros de Saúde da Região. Não pode deixar de se colocar a questão: se esse investimento tivesse sido feito no HDES, nomeadamente na resolução das falhas estruturais que o poder político só agora reconheceu, mas que já conhecia há muito, será que o incêndio teria ocorrido ou, tendo ocorrido, teria tido estas mesmas dimensão e consequências?
Há responsabilidades e consequências políticas que devem ser apuradas na opção de retirar verbas ao Serviço Regional de Saúde e transferi-las para o negócio privado da doença. É que o Serviço Público tem o dever de cuidar de todos, mas o privado só trata quem pode pagar.