Os dirigentes do PS da ilha Terceira acusaram hoje o Governo dos Açores (PSD/CDS/PPM) de “inação” e “desconsideração” pela população, por ter demorado oito meses a avançar com as obras de limpeza de uma estrada onde houve uma derrocada.
“Levaram cerca de oito meses para fazer uma intervenção de limpeza e remoção das pedras no troço que liga o Cabo do Raminho à Mata da Serreta, quando desde que houve a crise sísmica foi algo que a população exigiu e as circunstâncias de há oito meses se mantêm exatamente iguais”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o deputado do PS eleito pela ilha Terceira Luís Leal, numa conferência de imprensa, junto ao local.
Desde 14 de janeiro que a estrada principal entre as freguesias da Serreta e Raminho, no concelho de Angra do Heroísmo, está encerrada, devido a uma derrocada provocada por um sismo de 4,5 na escala de Richter, inserido na crise sismovulcânica em curso na ilha Terceira desde junho de 2022.
O Governo Regional lançou, em 26 de julho, o concurso para a conceção e construção da reabilitação do talude, que apresenta “sinais de instabilidade”, por um valor base de quatro milhões de euros.
Entretanto, o executivo adjudicou uma empreitada de desmatação e desmonte de rochas em talude, por cerca de 363 mil euros, que se iniciou na quarta-feira, por um período de 45 dias.
“Sem prejuízo de uma intervenção mais estrutural na estrada em causa, tornou-se necessário avançar desde já com uma contratação de emergência devido ao aumento significativo da atividade sísmica no perímetro do vulcão de Santa Bárbara, acompanhado de sinais de deformação radial, o que aconselha à abertura da via, para efeitos de criação de alternativas de acesso”, justificou o Governo Regional, em comunicado.
O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) elevou, no dia 27 de junho, o nível de alerta do vulcão de Santa Bárbara, para V3, numa escala de 0 a 6, em que 3 significa a confirmação da reativação do sistema vulcânico.
Para os dirigentes socialistas, “as circunstâncias de há oito meses eram exatamente as mesmas, se calhar até mais adequadas do que as atuais” para fazer a limpeza e remoção das pedras.
“Continua a existir a crise sísmica, continua a existir perigo para as pessoas e para as máquinas e na verdade o que houve foi uma grande falta de atuação do Governo dos Açores, que só reagiu a uma alta pressão das populações locais e dos partidos políticos”, alegou Luís Leal.
O deputado socialista acusou o executivo de “completa desconsideração” e de tentar iludir a população, porque as obras arrancaram nas vésperas da peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora dos Milagres, na freguesia da Serreta.
“A faltar três dias para uma festividade que é muito marcante para toda a população, que envolve milhares de pessoas, é que há uma espécie de aproveitamento desta matéria e começam a surgir obras e começam a fazer parecer que trabalham”, criticou.
Luís Leal rejeitou ainda que o chumbo do Orçamento da região para 2024, motivo da realização de eleições antecipadas, em fevereiro, seja uma justificação para o atraso nas obras.
“Havia falta de aprovação do Orçamento, mas a verdade é que o Orçamento foi aprovado [entretanto] e as verbas continuam por injetar em vários setores da economia. É desculpa de mau pagador, na nossa modesta opinião”, sublinhou.
O parlamentar do PS apontou falhas à via alternativa àquele troço, alegando que oito meses depois da derrocada “continua por asfaltar, por ter luz e por melhorar”.
“Muitas pessoas têm de fazer cerca de uma hora e meia para se deslocar para o trabalho e as crianças para a escola; os comerciantes locais ficaram com enormes dificuldades em matéria de abastecimentos, os agricultores continuam por ver reivindicações relativamente aos muros que caíram durante a crise sísmica, houve promessas e até hoje nada”, salientou.