Esta frase foi refrão (e grito coletivo) de uma música que ouvi no festival Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos, em Tomar, cantada pelos Cara de Espelho. E ficou-me na cabeça. Agarrado à consciência. Horas e horas a ecoar “Coisifique aqui o dedo, coisifique aqui o dedo”.
Fui pesquisar mais sobre a música e percebi que é sobre o Dr. Coisinho. Claro, tinha de ser. E todos sabem quem é o sujeito. Saudosista, lazarento. O verdadeiro “demo”. É aquele que gosta de coisificar o medo. De nos assustar com argumentos irracionais, feitos de populismo, extremismo e outros “ismos” que só queremos longe e que, esses sim, deveriam assustar-nos. É aquele que teme a diferença, a diversidade. Sim, só a cobardia pode estar nas entranhas do insulto, do desprezo e da humilhação. O Dr. Coisinho, que todos sabemos quem é, quer reabrir o degredo, esse alçapão sem fundo, e quer afogar-nos na ignorância, asfixiar-nos no medo. E, por isso, gritaremos todos “coisifique aqui o dedo”.
É tão urgente gritar! Gritar a uma só voz, tal e qual um coro. E também ouvimos tantos e tão bons no festival Bons Sons. No ano em que comemoramos os 50 anos do 25 de Abril, o medo será, talvez, a palavra mais importante. O medo de deitarmos tudo a perder, o medo de não conseguirmos cumprir Abril, o medo de perdemos todas as conquistas dos últimos 50 anos. O medo, o medo. Sempre o medo. Acima de tudo, o medo do medo. Que nos imobiliza, entorpece e silencia. E há tanto Dr. Coisinho a deambular pelo nosso país, pelo nosso mundo, e que vive do medo para crescer, resmungando ódio entre os dentes e vociferando frases feitas sem razão. Alimenta o medo e alimenta-se dele. Mas o medo do Dr. Coisinho está podre. Só atrai mosquedo, como nos cantam os Cara de Espelho.
É tão urgente juntar as pessoas em festivais como os Bons Sons. Festivais de todos e para todos. Festivais da comunidade e para a comunidade. Festivais sem medo, onde há festa por toda a parte e não só sobre o palco. Festivais onde, como diz o sábio povo, se faz o bem sem olhar a quem. E é tanto o bem que se faz. Festivais de liberdade, onde cabe um mundo com muitos mundos lá dentro. Festivais onde a arte é, afinal, revolução e onde, a cada encontro com o Dr. Coisinho, gritamos, a uma só voz e em plenos pulmões, “coisifique aqui o dedo”.