O município de Angra do Heroísmo, nos Açores, está a distribuir, porta a porta, panfletos com medidas de autoproteção em caso de sismo, não porque a crise sismovulcânica se tenha intensificado, mas para que a população esteja mais preparada.
“A situação não se alterou. Quando se alterar o assunto será devidamente comunicado e é importante que as pessoas entendam que nestas matérias não há quaisquer segredos e tudo aquilo que se sabe é comunicado. Felizmente, as coisas têm-se mantido estáveis, contudo, seja para esta situação, seja para outra qualquer, é importante que as pessoas leiam, discutam e se preparem mentalmente para o que fazer caso aconteça qualquer coisa”, afirmou hoje, em declarações aos jornalistas, o presidente do município, Álamo Meneses.
O panfleto elaborado pelo Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA), apresentado hoje em conferência de imprensa, contém medidas de autoproteção em situação de sismo ou erupção vulcânica.
A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, prevê distribuir 16 mil exemplares porta a porta por todas as moradias habitadas no concelho.
Desde 24 de junho de 2022 que a atividade sísmica no vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira, se encontra “acima dos valores normais de referência”, segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
Têm existido alguns picos de libertação de energia, mas o CIVISA tem mantido o nível de alerta científico para a caracterização do estado da atividade sismovulcânica em V2 (possível reativação do sistema — sinais de atividade moderada), numa escala de 0 a 6.
O maior evento foi registado em 14 de janeiro, com magnitude 4,5 na escala de Richter, tendo provocado uma derrocada na freguesia do Raminho, bem como o derrube de muros em terrenos agrícolas e pequenas fissuras em algumas casas.
Segundo o autarca de Angra do Heroísmo, o objetivo da distribuição deste panfleto é que as famílias discutam o papel de cada membro do agregado em caso de catástrofe e que prevejam também prestar apoio a vizinhos ou familiares com maiores dificuldades de mobilidade.
“É bom que a família tenha predefinido quem vai buscar os filhos à escola, quem vai visitar algum idoso ou alguém que tenha mobilidade reduzida. É importante que haja uma preparação prévia para qualquer evento anómalo que aconteça, de forma a que a resposta da população seja mais eficaz e que se evitem o pânico e as correrias”, explicou.
Para o presidente da Proteção Civil dos Açores, Rui Andrade, a iniciativa da autarquia de Angra do Heroísmo deve ser replicada por outros municípios para “sensibilizar, informar, capacitar a população”, num arquipélago mais suscetível a eventos sismovulcânicos.
“Não vale a pena falarmos do assunto com receio, com tabu ou não falar nele, pura e simplesmente ignorá-lo. O assunto é por demais importante. Devemos falar nele de forma constante, não vulgarizar, mas normalizar. Ele existe, o que temos de fazer é prepararmo-nos a todos os níveis”, defendeu.
Rui Andrade frisou que “o cidadão tem um papel fundamental no sistema de proteção civil”, mas considerou que a população açoriana está hoje “mais informada, mais esclarecida e mais preparada”.
“Esta preparação deve-se muito àquilo que tem sido desenvolvido pelo Serviço Regional de Proteção Civil ao longo dos anos e com foco na comunidade mais jovem da região, nas escolas”, apontou.
O presidente do SRPCBA deixou uma mensagem de “tranquilidade e confiança no sistema”, alegando que os bombeiros estão hoje “mais apetrechados e mais qualificados” e que as infraestruturas são “muito diferentes do que eram no passado”.
“Nós temos uma memória coletiva muito marcada pelo drama social que foi o sismo de 1980, mas a verdade é que as circunstâncias hoje são diferentes do que eram à data”, ressalvou.