Assisti, como é hábito, à sessão solene de celebração do 25 de Abril na Assembleia da República. Sessão que ficou marcada na véspera por declarações deploráveis, no que concerne a juízos de ordem pessoal de Sua Excelência o Presidente da República relativamente ao anterior e atual Primeiro-Ministro, e também politicamente polémicas, no que respeita ao funcionamento da Procuradoria Geral da República e à história colonial de Portugal. Marcelo decidiu, um dia antes da exaltação dos 50 anos de Abril, ser o elefante numa loja de porcelana. As reações, da esquerda à direita, foram imediatas e, como era de esperar, tiveram eco no dia seguinte. Era isso que estava à espera quem, no dia anterior, ouvira André Ventura falar em “traição à pátria” e que “se houvesse, em Portugal, um processo de destituição da Presidência da República, o Chega não hesitaria em começa-lo.” E assim foi. O CDS, o IL e o Chega disseram, sem ser nas entrelinhas, o que entendiam das palavas do mais alto magistrado da nação relativamente ao passado imperialista e colonialista e não só…. E destas intervenções, goste-se ou não, há que destacar o discurso (não escrito) de André Ventura. Foi, indiscutivelmente, um dos grandes discursos do dia. André Ventura é um tribuno de excelência. Marcelo deu-lhe diversos trunfos. E, como era expetável, Ventura aproveitou ao máximo o tempo ao seu dispor para brilhar. Ventura não discursou para os comentadores ou analistas políticos. O destino da mensagem de Ventura era outro. E temo bem que, a cada intervenção disparatada de Marcelo, haja cada vez mais destinatários da mensagem.

O outro grande, grandíssimo, discurso do dia da Liberdade foi feito por Rui Tavares. O Deputado Rui Tavares, goste-se ou não da forma ou estilo, é um dos parlamentares melhor preparados para o cargo que temporariamente desempenha. O seu discurso fez jus, mais uma vez, à qualidade que lhe reconheço. Mas se estes dois discursos marcaram a sessão, houve outros de que não retive nada de relevante. E confesso que esperava bem melhor do que ouvi da esquerda mais à esquerda até ao centro esquerda. Foram intervenções para cumprir calendário. Discursos redondos, com chavões e com a habitual divisão entre bons e maus. A sessão discursiva fechou com a intervenção do Presidente da República. Marcelo, qual professor de História, procurou reparar o terrível estrago feito na véspera através de um figurado abraço da esquerda à direita. Marcelo quis, no fundo, dar uma lição de História. Confesso, com o respeito institucional que o cargo ainda me merece, que já não estou para lições do Professor Marcelo. Desejo apenas, com total sinceridade, que leve o mandato até ao fim com a dignidade possível e, preferencialmente, sem muitos microfones na sua frente.

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