A história conta-se rapidamente. Na homilia sobre o Evangelho que relata a multiplicação dos pães e dos peixes o sacerdote equivocou-se nos números, dizendo que Cristo com dois mil pães e cinco mil peixes deu de comer a cinco homens. De entre a assembleia ouviu-se um comentário categórico: “assim, também eu”. No domingo seguinte o sacerdote procurou emendar o erro e repôs a verdade dos factos. Mas do fundo da igreja ouviu-se o mesmo clamor: “também eu”. – Como, interrogou o padre. “Com as sobras da semana passada”, ripostou o paroquiano.
Assim também podia ser a saga do excedente orçamental, o canto do cisne da governação socialista. Nos derradeiros dias de uma maioria absoluta desbaratada em sucessivas demissões, motivadas por implicação ou suspeita de ilegalidades e corrupção, não faltaram autoelogios às contas certas. Quem nos anos da Troika abominou o rigor orçamental, que Sócrates foi incapaz de assegurar, agora vangloria-se pelos bons resultados, é verdade, principalmente obtidos à custa de uma das maiores cargas fiscais da Europa e da travagem abrupta do investimento público. E também da disciplina orçamental de Passos Coelho, é bom lembrar.
No ministério das Finanças, Medina preocupou-se mais em ser um aluno brilhante aos olhos de Bruxelas do que a permitir a resolução dos problemas de fundo do país. A redução drástica do investimento público tem as consequências à vista de todos: caos nos serviços de saúde, escolas sem professores e forças de segurança em protesto na rua.
Logo nos vem à memória o velho superavit das contas regionais…