O presidente do Chega, André Ventura, considerou que o apoio de 500 milhões de euros aos agricultores, hoje anunciado pelo Governo, devia fazer corar de vergonha o primeiro-ministro, António Costa.

“O que eu vi hoje, que o Governo socialista vai abrir agora um pacote de 500 milhões de euros para apoiar os agricultores, devia corar de vergonha António Costa que, durante sete anos, deixou os agricultores na miséria e agora vem acenar, a um mês das eleições, com o apoio”, afirmou aos jornalistas André Ventura, junto a uma cooperativa agrícola no concelho de Vila Franca do Campo, nos Açores, onde está a participar na campanha eleitoral para as legislativas regionais.

Os agricultores portugueses manifestam-se a partir das 06:00 de quinta-feira com máquinas agrícolas nas estradas de várias zonas do país, reclamando “condições justas” e a “valorização da atividade”, foi hoje anunciado.

Em causa estão os cortes nos pagamentos aos agricultores no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que levaram a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) a acusar o Ministério da Agricultura de incompetência devido a erros de programação.

O Governo anunciou hoje um pacote de apoio ao rendimento dos agricultores no valor de quase 500 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar a Política Agrícola Comum.

Manifestando preocupação com os protestos dos agricultores em França, Ventura adiantou, sobre o protesto na quinta-feira dos agricultores em Portugal, disse esperar que o executivo “compreenda a frustração destas pessoas”.

“Os nossos agricultores e produtores são dos mais maltratados da Europa. Eu arrisco-me a dizer que os nossos agricultores e produtores são mais mal tratados que os franceses”, declarou, explicando que os agricultores nacionais pagam mais “pelo gasóleo e pela energia que a maior parte dos países”.

Segundo André Ventura, os agricultores portugueses “ainda estão à espera dos apoios que tinham sido prometidos”, primeiro do tempo da pandemia de covid-19 e depois devido ao aumento da inflação.

“Alguns deles continuam à espera dos apoios devidos que não lhes foram feitos e, por isso, eu espero que os políticos e, sobretudo, o Governo não venham depois chorar a dizer ‘está a haver uma manifestação muito agressiva por parte dos agricultores’”, declarou, considerando que “eles têm razão”.

Admitindo que muitos residentes nas cidades e os centros de abastecimento “podem vir a ser penalizados com isto”, o líder do Chega apelou ao país para que compreenda que os agricultores “já não têm outra solução”.

“Eles estão desesperados, não têm dinheiro para pôr comida na mesa das famílias, estão desesperados em França, em Portugal e em muitos sítios, e aqui nos Açores igual”, realçou.

Adiantando que o Chega está ao lado dos agricultores, o dirigente desejou que o protesto “corra dentro da maior ordem possível, dentro da tranquilidade possível”, Ventura assegurou ainda que o partido vai ter deputados junto do protesto dos agricultores.

Às pessoas que trabalham no mundo rural, pediu para que lutem pelos seus direitos, pois o que lhes estão a fazer não é justo, acrescentou.

Os protestos de agricultores na Polónia em 2023, contra a liberalização das importações da Ucrânia, estenderam-se a outros países da Europa de Leste e à Alemanha, após o anúncio, em dezembro, de uma redução nas subvenções e a eliminação de benefícios fiscais sobre o gasóleo agrícola.

Em França, os protestos multiplicaram-se desde o outono por todo o país – contra a ‘transição verde’ e a política agrícola europeia e reivindicando melhor remuneração para os seus produtos, menos burocracia e proteção contra as importações – e chegaram à Bélgica.

Com a contestação a alastrar pela Europa, alcançando Espanha, Grécia e, mais recentemente, Portugal, a Comissão Europeia lançou um “diálogo estratégico” sobre o futuro da agricultura, em contagem decrescente para as eleições europeias (06 a 09 de junho).

 

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