O líder do Chega nos Açores, José Pacheco, que pretende eleger um grupo parlamentar nas eleições regionais, exclui entendimentos pós-eleitorais com o PS, mas está disponível para dialogar com o PSD.
“Se tivermos que fazer um acordo vantajoso para os açorianos, também faremos”, disse, em entrevista à agência Lusa.
“Com os socialistas, com certeza é água e azeite, não vai dar muito certo. Com os socialistas, eu diria [que] não há impossíveis na política, mas acho pouco provável”, afirmou o cabeça de lista do Chega por São Miguel e pelo círculo regional de compensação.
O candidato afastou um entendimento com o PS, o maior partido da oposição, pelas circunstâncias políticas: “Não é pelas pessoas.”
Apesar da abertura para um entendimento com a coligação PSD/CDS-PP/PPM (partidos que governam a região desde 2020 e agora concorrem juntos), José Eduardo da Cunha Pacheco alerta que só terá conversas “com o PSD”.
“Eu falo com gente séria. Ainda tenho em conta José Manuel Bolieiro [presidente do PSD/Açores]. Mas José Manuel Bolieiro vai ter que provar também que é sério. E se não me provar que é sério, ele vai ter que provar ao povo novamente se é sério. Aí, a coisa pode correr muito mal. Eu não quero o socialismo de novo na minha terra, mas esquecem-se de uma coisa: o Chega pode ser uma alternativa. E nós podemos ser uma alternativa com pequenos partidos”, avisou o candidato, natural de Ponta Delgada e residente no município de Lagoa.
O cabeça de lista, que foi eleito deputado nas regionais de 2020 e vai completar 53 anos no dia das eleições, 04 de fevereiro, referiu que não tem medo do diálogo, da negociação, nem do compromisso.
“Nós sempre fomos um partido de diálogo, sempre apelámos à estabilidade. Vamos fazer algo no dia 05 de fevereiro? Não sei. Vamos ver as circunstâncias”, admitiu.
Em relação a objetivos, Pacheco, que tem o 12.º ano e é designer gráfico de profissão, disse à Lusa que o partido pretende eleger um grupo parlamentar: “Gostaríamos de poder ter sete ou oito deputados na assembleia regional. E acho que merecemos.”
Para o Chega atingir tal objetivo, uma vez que em 2020 elegeu dois deputados (um deles passou a independente), será preciso fazer “muito trabalho” até ao dia das eleições.
O cabeça de lista, que é militante do Chega desde 2020 e entre 1997 e 2005 foi militante do CDS-PP, considera que a região precisa de políticas que fixem jovens, alertando que “há um défice de natalidade” e, neste momento, nos Açores, “estão a sair mais pessoas do que a entrar”.
O manifesto eleitoral da candidatura, com “oitenta e muitas páginas”, tem “muitas áreas” e destaca temas como a habitação, a juventude, o apoio aos idosos, a saúde e a educação.
Nas eleições regionais de 2020, em que o PS venceu, mas perdeu a maioria absoluta, depois de 24 anos de governação, o Chega foi a quarta força mais votada.
À direita, formou-se uma maioria alternativa: PSD, CDS-PP e PPM acabaram por formar governo, com acordos de incidência parlamentar com Chega e IL, que garantiam a maioria absoluta dos votos na assembleia regional.
Carlos Furtado, o outro deputado do Chega, passou a independente meses depois, em rutura com o partido.
O Chega votou favoravelmente o Orçamento de 2021, o primeiro da legislatura que agora termina, e viu então ser aprovada a sua proposta para um aumento do complemento regional de pensão.
Na discussão do Orçamento para 2022, ameaçou votar contra (tal como a IL), mas acabou por viabilizar a aprovação, ao ver aceites condições impostas.
O documento com as contas para 2023 chegou ao parlamento sem as mesmas ameaças, mas com o presidente do executivo, Bolieiro, a apelar à “estabilidade política”. O objetivo já não foi conseguido com o Orçamento para este ano – acabou chumbado, o que levou o Presidente da República a dissolver o parlamento.
Desta vez, o Chega absteve-se. Após o chumbo, José Pacheco abriu “a porta à negociação” de um novo documento, sem sucesso: “Eles é que me enganaram, mas abri […]. Nas minhas costas chegaram ao Presidente da República e pediram eleições antecipadas.”
Às eleições de 04 de fevereiro concorrem, no total, 11 candidaturas, incluindo três coligações. O Chega candidata-se em todos os círculos.
Entre os votos validamente expressos em 2020, o partido obteve 5,26%, depois de PS (40,65%), PSD (35,05%) e CDS-PP (5,73%).