Hoje é dia de Greve de toda a Função Pública. O motivo é simples: parar de empobrecer, exigindo aumentos salariais que compensem a inflação e invertam a perda de poder de compra. Longe da imagem dos privilegiados que trabalham pouco e recebem muito, os Funcionários Públicos, com a sua dedicação, são essenciais para o funcionamento dos Açores. São Enfermeiros, Polícias, Médicos, Auxiliares, Professores, Trabalhadores de Repartições, Funcionários Judiciais, Trabalhadores da Recolha do Lixo, entre tantos outros imprescindíveis. Não são notados quando fazem o seu trabalho bem feito, mas são notados, e muito, quando estão ausentes, pelo prejuízo que daí resulta. São, muitas vezes, desconsiderados nas suas funções, sobrecarregados, avaliados de forma injusta – ignorando o mérito e o empenho – e têm visto as suas carreiras desvalorizadas. É frequente trabalharem sem as condições mínimas, por falta de investimento.

Tal como muitos outros Trabalhadores, o salário que recebem com 20 anos de experiência é praticamente o mesmo do que um Colega que começou agora a trabalhar. Tal como muitos outros, têm visto o seu poder de compra a encolher – nos últimos 12 anos, o seu salário perdeu cerca de 20% do poder de compra. Efetivamente, a esmagadora maioria dos Trabalhadores da Função Pública nos Açores recebe um salário que mal chega para as despesas ou teve de fazer sacrifícios e contas à vida. Apesar de trabalharem e de se dedicarem à sua profissão, são pobres ou estão a empobrecer. Tal como milhares de outros, que trabalham no Privado. Por estes motivos, alguém mais distraído poderá dizer: mas isso é o normal nesta região, neste país. Em parte, tem razão: esta realidade é o normal para quem trabalha, seja na Função Pública ou fora dela. Mas, sendo normal, não o devia ser e, sobretudo, é um normal que, em boa verdade, é inaceitável. É um mau normal, que o orçamento do estado e o orçamento da região aprofundam, porque não preveem o investimento mínimo que é necessário para o bom funcionamento dos Serviços Públicos. Esse, sim, deveria ser o investimento normal.

Ao mesmo tempo, neste ano, os bancos tiveram de lucro, por dia, 11 milhões de euros. Os 20 maiores grupos económicos nacionais (que também têm atividade nos Açores) tiveram de lucro 25 milhões de euros por dia. Estou a falar de lucros! Não se trata das receitas, mas sim de lucros. Apenas olhando para os cerca de 4 minutos que demora este artigo, estes grandes grupos lucraram o equivalente ao que recebem, num ano, 7 Trabalhadores dos Açores com o salário mínimo. Ou seja, 70 mil euros, praticamente livres de impostos, pelas vantagens fiscais exclusivas dos muito grandes. Ao fim do ano, são milhares de milhões de lucros, sobre os quais é cobrada uma taxa de imposto inferior àquela que é cobrada a qualquer salário ligeiramente superior à média nacional. É útil ter presente que se o salário mínimo tivesse sido atualizado considerando a inflação e o aumento da produtividade, seria, hoje, de 1260€, ou seja, mais 500€ do seu valor real.

Por tudo isto, os Trabalhadores da Função Pública estarão, hoje, em Greve. Hoje, a sua falta será sentida, pela simples razão de recusarem empobrecer e trabalhar sem condições. Fazem Greve pela simples razão de que os governos regional e da república lhes recusam um mínimo de dignidade.

É fácil esquecer os resultados das lutas. Nem sempre são vistos e, normalmente, são demorados. Mas é bom recordar que os aumentos salariais que aconteceram em 2023 foram o resultado de Greves, Manifestações e outras ações de Trabalhadores, tanto da Função Pública, como do Privado. Luta que, muitas vezes, exige Coragem, porque lhes pode trazer prejuízo. Nos tempos que correm, só isso já é digno de ser notado!

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