“Alma Viva”, “Vadio”, “Great Yarmouth Provisional Figures”, “Mal Viver” e “Viver Mal” são os filmes exibidos na 8.ª edição do Cine Atlântico, que arranca na sexta-feira na ilha da Terceira, nos Açores.
A mostra de cinema português contemporâneo, organizada pelo Cine-Clube da Ilha Terceira, tem este ano como tema “Retratos de Família” e conta com a presença da atriz Beatriz Batarda, do crítico de cinema Rui Tendinha e do realizador Augusto Fraga, entre outros.
“Não podemos trazer muito mais do que cinco filmes, porque os orçamentos não permitem ir além de cinco, seis exibições. Se há alguma dificuldade a resultar é da boa qualidade dos filmes e de alguma quantidade que surge”, adiantou, em declarações à agência Lusa, o presidente do cine-clube Jorge Paulus Bruno.
Reativado há 10 anos, o Cine-Clube da Ilha Terceira promove, além da mostra de cinema português, a exibição de cinema europeu alternativo, três vezes por mês, e uma a extensão do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, que leva a todas as ilhas dos Açores.
Segundo Jorge Bruno, o clube, fundado na década de 1970, desempenha hoje “um papel importante e que é procurado por um conjunto de interessados em cinema de qualidade”.
“Já estamos a conseguir fidelizar progressivamente o público. Temos tido imensas reservas de bilheteira. Estamos convictos de que vamos ter boas casas e, de ano para ano, temos vindo a constatar que há um interesse crescente, lento embora, pelos filmes portugueses”, apontou.
A mostra surgiu em 2016, como alternativa a um festival de cinema sobre o mar, as ilhas, as viagens e as aventuras, com competição, que “continua na gaveta”.
“Não o perdemos por completo, mas atendendo aos orçamentos e aos apoios que nos são concedidos, por exemplo, pelo Governo Regional dos Açores, que este ano foi praticamente insignificante, está muito longe de podermos concretizar um projeto daquela natureza”, explicou Jorge Bruno.
O presidente do cine-clube continua a defender o potencial dos Açores na indústria cinematográfica e, por isso, convidou o realizador açoriano Augusto Fraga a partilhar a experiência de ter rodado a série Rabo de Peixe, da Netflix, na ilha de São Miguel.
Numa mesa redonda, que antecede a exibição do primeiro filme, na sexta-feira, participam também o responsável pelo Loulé Film Office, Manuel Baptista, o jornalista e crítico de cinema Rui Tendinha, o programador da mostra, José Vieira Mendes, e o ator do filme “Vadio”, Rúben Simões.
“As entidades poderiam criar um suporte financeiro para trazermos gente aqui que viesse a conhecer os Açores, no sentido de perceber que há condições para rodar filmes. Isso não acontece, mas a verdade é que os Açores têm um potencial imenso, até ao nível dos custos de produção de rodagem, que são mais em conta do que em muitos outros sítios”, salientou Jorge Bruno.
O Cine Atlântico arranca na sexta-feira, na Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, com “Alma Viva”, primeira longa-metragem de Cristèle Alves Meira, um retrato sobre a tradição, o sobrenatural e as superstições, que foi indicado pela Academia Portuguesa de Cinema como concorrente de Portugal à nomeação para Óscar de Melhor Filme Internacional em 2023.
No sábado, é exibido “Vadio”, de Simão Cayatte, que aborda um duro relato do abandono, seguindo-se “Great Yarmouth Provisional Figures”, de Marco Martins, que contará com a presença da atriz principal, Beatriz Batarda, na sala.
Estreado na competição do Festival de San Sebastián em 2022, o filme é um ‘thriller’ sobre a imigração ilegal portuguesa no Reino Unido, a poucos meses do Brexit.
A mostra encerra no domingo com a exibição de dois filmes de João Canijo, “Mal Viver”, vencedor do prémio do júri da Berlinale 2023 – Festival Internacional de Cinema de Berlim, e “Viver Mal”, dois retratos cruéis da natureza humana, sobre relações familiares, rodados no Hotel Parque do Rio, em Ofir.