Os bancos de pesca de profundidade que existem nos Açores estão ainda “bem preservados” e têm “elevado valor natural e ecológico”, concluíram investigadores do instituto Okeanos, da Universidade dos Açores, após uma campanha oceanográfica na região.

“Era impensável encontrarmos aquilo que encontrámos no Banco Princesa Alice nesta missão, em que verificámos alguns impactos da pesca de palangre, mas verificámos também a presença de colónias de corais negros de grandes dimensões a cerca de 800 metros de profundidade que terão mais de mil anos de idade”, disse o investigador Telmo Morato em declarações a jornalistas no final da expedição.

O cientista referia-se à missão efetuada por 17 investigadores da Universidade dos Açores, a bordo do navio “OceanXplorer”, considerado um dos mais “sofisticados do mundo”, que entre 24 de agosto e 8 de setembro percorreu quatro áreas marinhas da região (os bancos Princesa Alice e D. João de Castro, a costa oeste da ilha do Faial, e a costa da Piedade, na ponta da ilha do Pico).

“São resultados surpreendentes”, afirmou Telmo Morato, adiantando que os investigadores saíram do Banco Princesa Alice, situado a cerca de 45 milhas náuticas (83,3 quilómetros) a sudoeste da ilha do Faial e um dos principais bancos de pesca da região, com uma certeza: “ainda vamos a tempo de proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis do mar dos Açores”.

Os investigadores do Okeanos descobriram também durante esta campanha oceanográfica uma nova área marinha de profundidade, conhecida entre a comunidade científica por ‘canhão’ (desfiladeiro submarino), que está ainda por explorar.

“É um canhão que deve ter 15 quilómetros de comprimento e 100 metros de profundidade, ambiente único em termos dos ecossistemas e que vai requerer mais exploração da nossa parte, para verificar quais são as comunidades biológicas que existem nestes habitats, que ainda não foram muito estudados nos Açores”, sublinhou Telmo Morato.

Durante esta missão, que envolveu oito mergulhos em submarinos e 12 mergulhos de veículos operados remotamente (ROV’s), foram também recolhidas amostras de espécies até agora desconhecidas da comunidade científica.

“A utilização dos equipamentos sofisticados de exploração do mar profundo, permitiu recolher 232 amostras biológicas de organismos que vemos nas imagens, mas que ainda não estão identificados, e que poderão ser mesmo novas espécies para a ciência”, realçou o investigador da Universidade dos Açores.

Durante a campanha oceanográfica foram feitos levantamentos batimétricos de quase quatro mil quilómetros quadrados, dos quais 630 quilómetros quadrados são totalmente novos, para a base de dados do Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa.

 

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