Os produtores de vinhos dos Açores estão a antecipar este mês as vindimas, que costumam realizar-se em setembro, devido às alterações climáticas, disse à Lusa o presidente da Comissão Vitivinícola regional, no melhor dos últimos três anos de produção.

Vasco Paulos afirmou que a vindima tradicional se realiza habitualmente “na primeira semana de setembro ou segunda semana”, mas desde há três ou quatro anos “tem sido feita em agosto e cada vez mais cedo”.

Nos Açores produzem-se vinhos tintos, brancos, rosé, licorosos e, mais recentemente, espumantes.

“Este ano já começámos a vindimar novamente na ilha do Pico”, referiu Vasco Paulos, natural daquela ilha, que é responsável pela produção da maior parte dos vinhos brancos dos Açores.

O também produtor de vinhos, que possui uma pós-graduação em Enologia, frisou que “há produtores que já vindimaram na semana passada e que já estão a vindimar esta semana”.

O fenómeno, segundo o representante, tem a ver “não só com as alterações climatéricas, em termos de maturação da vinha, mas também com as condições adversas climatéricas que põem em risco as uvas – com medo de as perder, os produtores vindimam mais cedo”.

Vasco Paulos apontou que se perspetiva “um bom ano vitivinícola quando comparado com os três últimos anos”, face “à expectativa que havia na altura da floração, que correu muito bem”.

Mas, nas últimas duas semanas, foram registadas “humidades muito elevadas e algumas chuvas, acompanhadas pelos prejuízos dos pássaros”, o que colocou a expectativa inicial de haver “duas vezes e meia a produção de 2022 num patamar não tão alto”.

A meta era atingir os 660 mil litros de vinhos certificados conseguidos em 2019, último bom ano de produção.

Vasco Paulos ressalvou que, apesar da quebra de produção dos últimos três anos, este fator “não se traduziu no decréscimo das marcas nem no número de vinhos”.

“Antes pelo contrário, as marcas aumentaram, bem como os produtores aptos a certificar e as referências comerciais. Neste momento, existem nos Açores mais de 60 marcas comerciais, tudo produto certificado”, declarou.

De acordo com o dirigente, “a dificuldade de mão-de-obra mantém-se”, havendo entretanto mais área de produção.

“A certa altura tínhamos também algum receio relativamente à capacidade de transformação instalada nos Açores, mas com o surgimento de novos agentes económicos esse receio dissipou-se”, afirmou.

No âmbito do programa VITIS, os produtores dos Açores têm vindo a promover a reconversão de vinhas em várias ilhas, de forma particular na ilha do Pico, mas, atualmente, segundo Vasco Paulos, “está-se numa fase de equilíbrio”, com 1.200 hectares aptos a produzir vinhos certificados.

Numa região com “castas de excelência e vinhos do topo”, os espumantes têm vindo a crescer e “têm muito potencial, havendo duas marcas já certificadas”.

Vasco Paulos explicou que “a exportação de vinho cresceu imenso por via da pandemia, o que impôs a necessidade de os produtores se reinventarem em termos de ‘marketing’ e de vendas, criando canais que hoje funcionam bem”.

A “grande fatia” dos vinhos é vendida nos Açores, também por via do turismo.

Europa, América e Ásia, mais recentemente, são os continentes para onde se exportam os vinhos açorianos, que têm vindo a receber vários prémios.

As castas nobres dos Açores são o Arinto, Terrantez do Pico e Verdelho, com cerca de 40 produtores e quatro regiões demarcadas.

A paisagem da cultura da vinha do Pico é um sítio classificado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) desde 2004.

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